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Artigo de Opinião

Jornalista

1/09/2022 06:00

Os materiais eram diversos, o resto era por conta da criatividade de cada um.

Noutros tempos não havia tanta oferta de brinquedos e os poucos que existiam eram a preços proibitivos. Face a este cenário a solução era mesmo inventar. A imaginação levava-nos a quase tudo para criar algo que desse para uma diversão.

Os pneus usados dos carros davam para várias utilizações.

O próprio pneu, apenas com dois paus que se enfiava no seu interior, um de cada lado e com um pouco de água e sabão na parte interior, dava para umas correrias. Até fazíamos corridas.

O mesmo pneu também dava para outras criações.

Lembro-me que cortávamos a roda interior que depois com um gancho improvisado com uma cana e com um pau numa das pontas dava também para umas corridas.

As caixas de cera dos sapatos também eram reaproveitadas para a brincadeira.

Aqui era de certa forma a antecipação das novas tecnologias. Numa era em que nem sequer se ouvia falar em telemóveis, as brincadeiras com estas tampas já antecipavam o que mais tarde se tornou banal.

Pegávamos nas duas partes da caixa e fazíamos uns furos onde amarrávamos um cordel. Com uma certa distância, um num lado outro no outro e com o cordel bem esticado, conseguíamos falar uns com os outros através deste "telefone" improvisado. A verdade é que o som da nossa voz se propagava através desse cordel e conseguíamos ouvir no outro lado.

Os bidões do petróleo também davam para a brincadeira.

Normalmente estes reservatórios que ficavam do lado da rua junto às mercearias, quando ficavam vazios, usávamos para algumas brincadeiras. Aqui eram testes de equilibrismo. A perícia de cada um era colocada à prova. Colocávamos o bidão na horizontal e depois saltávamos para cima tentando percorrer a maior distância possível num verdadeiro exercício de destreza e acrobacia.

No interior das tampas destes bidões por onde se retirava o petróleo, existia lá uma argola que servia de vedante. Para nós essa argola depois de bem lavada era usada como pulseira.

Estas eram brincadeiras muito saudáveis e com poucos riscos para quem as fazia. No entanto, existiam outras que já não eram bem assim.

Recordo-me, por exemplo, da utilização de flechas improvisadas que continham alguma perigosidade.

Um instrumento servia para brincar aos "índios e cobóis".

Eram "equipamentos" feitos com um arco e com uma flecha. O arco era feito com uma vara flexível, que se vergava um pouco ao qual se amarrava um cordel que depois iria servir de mola que projetava a flecha a uma certa distância. A flecha era feita com canas fininhas. Para não ser tão perigoso, na ponta colocávamos tampas das garrafas de azeite ou de óleo que evitavam lesões quando atingíamos o "inimigo". Reconheço que era um tipo de brincadeira pouco recomendável e que de resto até não era das mais usadas, porque havia sempre alguém com um pouco mais de juízo que nos alertava para os perigos que este tipo de brincadeira encerrava.

As joeiras também entravam na coleção de brinquedos de outros tempos. Era uma atividade muito interessante. Desde a aquisição do papel, até ao produto final era um processo muito interessante.

Aqui já implicava algum investimento. Era necessário dinheiro para as folhas de papel e para as "meadas" de cordel que era necessário adquirir.
Mas lá se conseguia.

Com o material todo, começava o processo de construção, utilizando canas que cortávamos à medida conforme a dimensão da joeira. As folhas de papel eram coladas usando semilha cozida. O "rabo" da joeira era feito com restos de tecido recortados e amarrados ao longo de um cordel. Depois era só testar.

Claro que a criatividade noutros tempos não se limitava estas criações que descrevi. Havia muito mais, das quais darei conta em outros artigos.

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