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Artigo de Opinião

Doutorada em História / Investigadora

27/12/2023 08:00

A quatro dias de mais um ano que termina, dei comigo a refletir sobre os temas que tinha partilhado com cada um de vós. Todos eles constituíram, para mim, verdadeiras preocupações. Obrigaram-me, de todas as vezes, a não descalçar os sapatos dos outros. E, hoje, não podia fazê-lo de outra maneira. Em janeiro, através do Eurobarómetro do Parlamento Europeu, na ficha relativa a Portugal, dava conta de que havia, por parte dos portugueses, uma grande preocupação com a subida do custo de vida, a pobreza e a exclusão social. Outras inquietações, tais como a proteção dos direitos humanos, da solidariedade, da igualdade entre homens e mulheres, a luta contra as discriminações e a proteção das minorias, devem continuar a merecer toda a nossa atenção. Assim como as alterações climáticas. Em fevereiro, um estudo da APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, em parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian, trazia a público um tema que ainda tem tanto de complexo, como de invisível: a violência contra as pessoas idosas. Deste, saiu uma série de recomendações que iam no sentido de todos contribuirmos para a construção de uma sociedade onde os direitos não tenham idade.

O envelhecimento é uma conquista. É hora de se acabar com a discriminação em razão da idade (idadismo), tão erradamente enraizada na nossa sociedade. Em março reforcei a urgência de sermos mais inclusivos e justos, ao se assinalar o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial. Desde o século XV, como portugueses, demos a conhecer ao mundo, “Novos Mundos”. Ninguém, como nós, sabe que a nossa força social, política e económica, advêm da unidade na diversidade. Somos um país multicultural. Não permitamos, por isso, que o racismo nos enfraqueça. Em abril, partilhei convosco a filosofia de vida que dá significado ao Ubuntu, que deveria ser a chave para o século XXI: “Eu sou porque tu és”. Uma visão humanista, transversal e independente de qualquer país, cultura, religião ou afiliação política, na qual a minha humanidade só se completa com a do outro. Em maio, a publicação de uma Portaria que procede à homologação do protocolo que criou o Centro de Competências de Envelhecimento Ativo, em Portugal, para capacitação dos prestadores de cuidados aos idosos. Uma prestação de cuidados que se deseja mais diferenciada e valorizada, potenciado a partilha de boas práticas. É inegável o facto de que a família e a sociedade têm um forte impacto na forma de como se envelhece. Em junho, outro assunto polémico e discutível, que requer uma profunda reflexão e atualização: as salas de consumo vigiado, vulgarmente conhecidas por “salas de chuto”. Escrevi a pensar nas pessoas que consomem e que ainda têm em mente a sua abstinência; escrevi também para as famílias e amigos daquelas para as quais já não há essa hipótese. Em julho, partilhei convosco os números interessantes sobre a população portuguesa, divulgados pela PORDATA, com relevância para o índice de envelhecimento em Portugal e para a evolução demográfica como a tendência mais importante do século XXI. Em julho, reforcei a promoção da “Pitch Me!”, uma iniciativa conjunta da Academia Portuguesa de Cinema e da Netflix, à qual se associou a CIG – Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género. Um projeto desenvolvido a pensar nas pessoas que pertencem a um segmento da população ainda sub-representado nas áreas do cinema e audiovisual, pela sua diversidade étnica, cultural, sexual, de género, deficiência ou diversidade funcional e pessoas em contexto socioeconómico desfavorecido. Em setembro, escrevi sobre os lugares com maior longevidade do mundo, nos quais as pessoas vivem verdadeiramente saudáveis e felizes até aos 100 anos.

Sobre as cinco “Zonas Azuis”. Em outubro, sobre a obrigação moral e política de se preservar a nossa Zona Velha da Cidade do Funchal. Em novembro, sobre o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres. Pela responsabilidade de todos nós, homens e mulheres, de lutarmos contra todas as tipificações de violência exercida sobre as nossas meninas. Pelas mulheres. Pelos direitos humanos, sempre.

Em dezembro, escrevo como comecei este janeiro, com preocupação. Com os sapatos dos outros teimosamente calçados. De olhos postos em 2024. Com uma esperança alicerçada na nossa humanidade. Não deixemos de acreditar. Feliz Ano Novo.

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