MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

19/08/2023 08:00

A Invasão pacífica, distribuiu falantes do idioma de Andrés Bello, de portunhol, ou da Língua de Horácio Bento, adocicado por um trinado latino, um pouco por toda a Ilha. Até "lá em baixo", "lá dentro", onde o madeirense há muito já só aceita visitar no passeio domingueiro, no rali ou nos arraiais. Quanto mais viver. É vê-los um pouco por todo o lado. Desde os médios e grandes investidores, que recuperam comércio e restauração com história, incluindo alguns marcos incontornáveis da madeirensidade, até àqueles que arregaçaram as mangas, garantindo a operacionalidade mínima no retalho, hotelaria e restauração, quando de repente pareceu que a mão de obra "evaporou". Recordo um empresário, na eclosão da pandemia, que desconhecendo a rede de apoio que se estabeleceu, empenhou 200 mil euros para manter 40 de trabalhadores. Uma poupança ao Estado que se dispensava, mas que é exemplo de como esta "comunidade" veio completamente desconhecedora, e não habituada, dos apoios estruturais das sociedades assentes no modelo social europeu, bem como dos mecanismos de emergência em caso de crise. Muitos, acreditem, continuam a ter "vergonha" de solicitar proteção social devida qualquer residente. E, no entanto, as suas contribuições sociais e fiscais, quer no domínio do investimento, funcionamento ou trabalho, são hoje difíceis de quantificar, mas fáceis de qualificar: essenciais. Se este movimento migracional teve um fator importante, permitam-me destacar algo cuja tragédia transformou em bênção. Havia uma larguíssima fatia de jovens, cuja "saudade" era uma memória distante bebida oralmente pelos pais e avós. Madeira e Portugal consistiam essencialmente naquelas reuniões familiares em associações e clubes portugueses, em dia santo. Cuja ideia de "voltar" resumia-se a um passeio com os velhotes de 10 em 10 anos "àquela terra distante, toda coberta pelo mar", no verbo de Maximiliano de Sousa. Esses jovens, os que "regressaram", pois os velhos combatentes ficaram, resistentes, defendendo os seus negócios abriram assim uma nova e duradoura relação coma terra dos seus maiores. Alguns já aqui tiveram filhos, ou os filhos fizeram amigos. Todos beberam da segurança desta terra cheia de defeitos, mas magnânima no seu abraço. Para estes, mesmo os que voltaram a partir, para outra paragem europeia ou para os braços da nação de Bolívar, nunca mais a Madeira será (apenas) aquela festividade Folclórica, ou a visita decana. Será um espaço de eterno regresso, replicando o sentimento de ausência que percebiam nos seus antepassados. Vou macular uma narrativa até agora prazerosa com um acontecimento ocorrido na incontornável, e anual, festa luso-venezuelana da Ribeira Brava. Um partido oportunista, que se alimenta da ira e da frustração do cidadão desiludido com a vida, decide comparecer à festa, metralhando acusações de parasitismo aos imigrantes que, segundo eles, inundam a nossa sociedade. Como estavam numa festa venezuelana, logo adiantam que indultam os "criollos". Mas, se tomarmos em conta que os residentes na Madeira nascidos naquele país são 12 mil, entre 10 mil com nacionalidade portuguesa e 2 mil (apenas) com nacionalidade venezuelana; que excluindo estes, sobram 5 mil estrangeiros não "miras" (e que destes mil são os "nossos " ingleses a gozar reforma, e mais dois mil de outros europeus a gozar rendimentos e/ou nómadas digitais que sedentarizaram, umas centenas de africanos que ficaram do auge da construção, e 3 centenas de asiáticos distribuídos pelos restaurantes cino-japoneses e indianos); que além daqueles 12 mil de nados na Venezuela, mais 22 mil madeirenses viveram parte da sua vida naquele país, muitos dos quais foram bastante jovens, temos que 80 ou 90 % daqueles que imigraram para a Madeira, trazendo como primado cultural outras referencias, são precisamente "os venezuelanos". Portanto, se esse partido oportunista não estava a falar desses 80 ou 90 % de raiz venezuelana, estava a falar de quem? Toma-nos todos por idiotas? Ou julgam que não sabemos que tentam cativar esse núcleo reduzido de desiludidos da vida, para quem é mais fácil culpar o sotaque sul-americano pelos insucessos pessoais, do que o doloroso exercício do espelho?

Senhores xenófobos, sabemos que essas cabeças não são grande coisa, mas decidam-se: "oh bem" que estão em todos os serviços (ao) público, e irrita-vos o sotaque, "oh bem" que não fazem ponta, e estão a receber privilégios que só existem nessas mentes pequeninas. Ambos é um bocadinho difícil, concordamos?

Registo igualmente a desilusão-relâmpago do PS com o seu núcleo de emigrantes, ao atribuir um lugar de fundo da tabela ao seu candidato, autointitulado filósofo. Oportunismos!

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