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Artigo de Opinião

Consultor

7/06/2023 06:00

Conhecido como Leaveism ("Leaveismo"), do substantivo "Leave" (permissão para estar ausente), este hábito do trabalho moderno pode levar ao esgotamento, à depressão e a doenças físicas e tem vindo a aumentar drasticamente desde a pandemia. O relatório de 2022 do Chartered Institute for Professional Development intitulado "Health and Wellbeing at Work", revelou que 67% das organizações tinham observado alguma forma de "Leaveismo".

O termo foi cunhado pela primeira vez em 2013, pelos investigadores da Manchester Business School Ian Hesketh e Cary Cooper, para descrever o fenómeno dos colaboradores que utilizam férias anuais, horário flexível, dias de descanso e outros regimes de direito a férias para obterem tempo livre quando, na realidade, não estão bem ou necessitam de cuidar de pessoas dependentes, incluindo crianças e idosos. Mais tarde, alargaram o conceito para incluir as ocasiões em que os colaboradores levavam para casa e/ou para as férias o trabalho que não conseguiam realizar nas horas regulares. Trata-se de um problema do mesmo tipo que o presentismo - comparecer no escritório apesar de estar demasiado doente para trabalhar. Contudo, ao contrário deste, ninguém parece querer admitir aos seus empregadores que não consegue lidar com a carga de trabalho que tem nas horas normais de trabalho.

Os psicólogos do trabalho dizem que há duas razões para cair na armadilha do "Leaveismo": expectativas completamente irrealistas por parte das chefias e dificuldade de delegar a carga de trabalho. Isto pode ser ainda mais difícil quando se trabalha à distância. Enquanto alguns desfrutam da sua flexibilidade inerente, outros consideram que as chefias estão a usá-la como desculpa para perpetuar uma cultura de trabalho 24/7. Contudo, o "Leaveismo" não é um fenómeno sustentável e quando as pessoas se sentem pressionadas a adotá-lo, isso terá impactos negativos tanto para as organizações como para os indivíduos.

A melhor forma das organizações resolverem o problema é começar pelo topo: se os gestores enviam emails enquanto estão numa espreguiçadeira, os colaboradores vão sentir-se pressionados a comportarem-se da mesma forma. O problema é que as pessoas mais propensas a recorrer ao "Leaveismo" são também as menos propensas a admiti-lo, pois carecem de segurança psicológica no trabalho. Se tiverem medo da chefia, não conseguirem desligar e não puderem partilhar as suas dificuldades sem represálias, isso conduz ao excesso de trabalho e ao esgotamento. O conselho é fazer um exame de consciência assim que se aperceber da tentação de tirar férias no trabalho. Faça uma lista dos seus valores e necessidades no trabalho e compare-os com os da organização para a qual está a trabalhar. Se não coincidirem, a redistribuição da sua carga de trabalho não resolverá o problema. É altura de começar a procurar outro emprego.

Parafraseando Adam Grant: "Trabalhar quando se está doente não é um símbolo de empenho. É um sintoma de uma cultura doente. Nos locais de trabalho tóxicos, o descanso é um sinal de fraqueza. Espera-se que se sacrifique pelo seu trabalho. Em culturas saudáveis, o descanso é uma fonte de força. O bem-estar é vital para fazer o seu trabalho".

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