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Artigo de Opinião

Doutorada em História / Investigadora

4/10/2023 08:00

É nesse contexto que surgem os denominados ‘Homens dos Monumentos’ ou ‘Soldados do Património’, homens e mulheres, vestidos de rigor científico, que diariamente trabalham no sentido de proteger o património cultural ameaçado. Um trabalho concentrado na Blue Shield International (traduzida à letra para Comité Internacional do Escudo Azul), criada em 1996, na altura pelas quatro organizações não governamentais, que representam profissionais ativos nas áreas de arquivos, bibliotecas, monumentos e sítios, e museus, nomeadamente ICA - Conselho Internacional de Arquivos, ICOM - Conselho Internacional de Museus, IFLA - Federação Internacional de Associações e Instituições de Bibliotecas e o ICOMOS - Conselho Internacional de Monumentos e Sítios e, mais recentemente, em 2005, o CCAAA - Conselho Coordenador das Associações de Arquivos Audiovisuais, que posteriormente saiu em 2012. É através deles que se protege os bens culturais, em altura de crises e conflitos. Vale a pena conhecer o trabalho que é desenvolvido pela Blue Shield Internacional, envolvendo os sectores do património, o humanitário e o das forças militares. É dessa agregação de vontades, ainda que com pontos de vista diferentes, que se dá corpo ao Preâmbulo da Convenção de 1954.

Gostaria de acrescentar apenas que a Convenção para a Proteção dos Bens Culturais em Caso de Conflito Armado foi o tratado que surgiu, após a II Guerra Mundial, como resposta à destruição massiva de património cultural, que foi chocando os sobreviventes, ao longo e após o conflito. Ainda que a barbárie e o vandalismo (genocídio contra bens culturais) sejam muito mais antigos, a verdade é que o património cultural continua a falar por si. Mesmo em fragmentos, é e será sempre, no meu entender, um fator multiplicador de força. De uma comunidade, de uma nação.

Atualmente, cerca de uma dezena de países têm, no seio das suas Forças Armadas, unidades criadas para trabalharem na área da proteção do património cultural, em contexto de guerra, promovendo-se uma cooperação civil-militar, esta última mais privilegiada na Europa. Nos tempos que correm, não é possível, pelo menos para mim, diferenciar a proteção das populações da proteção do seu património. E, uma vez mais, à nossa porta, o património cultural está no centro de uma guerra. As forças russas estão acusadas pela Ucrânia de terem cometido mais de 300 crimes de guerra contra o seu património. São fragmentos. São a nossa História. É a nossa humanidade. É sobre ela que escrevo.

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