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Artigo de Opinião

Jornalista

6/07/2023 08:00

Isto vem a propósito da forma como se educava há muitos anos.

Na minha infância era normal uns corretivos que implicavam algumas medidas drásticas.

Os castigos por vezes não vinham só no peso das palavras.

Quando nos portávamos mal, por vezes as consequências desses nossos atos saíam-nos caro.

Nessa altura as famílias eram compostas por vários filhos. Normalmente com diferenças de idades muito curtas entre uns e outros. As dificuldades para uma mãe -que por norma ficava em casa - em conseguir disciplinar toda a gente não era fácil.

Nessa altura quando a malta não reagia à ordem dada por palavra poderiam surgir medidas mais drásticas. Em alguns casos com custos do ponto de vista físico.

Na maior parte das vezes a coisa ficava pelas ameaças. Era frequente ouvirmos expressões como: "vais levar umas correadas", "vais buscar um vime e vais apanhar com ele", "quando te apanhar vou te dar um puxão de orelhas". E se o mau comportamento acontecesse fora de casa, ouvíamos a expressão: "quando chegarmos a casa vamos conversar". Tudo servia para nos colocar na linha.

Claro que nos dias de hoje é impensável os pais procederem desta forma.

Noutros tempos em parte por necessidade éramos chamados para tarefas que nos dias de hoje estão a cargo de adultos.

Nesse tempo mesmo com idade de criança, quase que éramos obrigados a nos transformar em adultos mais cedo.

Nesse tempo ninguém nos ia levar ou buscar à escola. Por mais distante que fosse, íamos e vínhamos a pé. Normalmente em grupo. Nas redondezas havia sempre colegas da mesma idade que andavam nas mesmas turmas. Os nossos pais praticamente só iam à escola no início do ano letivo para o arranque das aulas e no final do ano para dar conta das notas. Recordo-me que até havia pais que nem tinham tempo para estas tarefas.

Para além da escola, tínhamos ainda outras tarefas. Era necessário ajudar em tudo lá em casa. Era necessário ajudar a limpar, a varrer e a lavar. Eram também necessário ajudar na fazenda. Era preciso mondar, regar, cavar, etc.

Por vezes eram os mais novos que também levavam e traziam recados. Longe da era do telemóvel, por vezes quando era necessário levar um recado a um vizinho ou levar qualquer coisa, lá íamos nós cumprir essa função.

Pelo meio de tudo isto, também tínhamos tempo para algumas brincadeiras. Uma vezes mesmo em casa com os restantes irmãos, outras vezes com os vizinhos mais próximos.

Brincadeiras e brinquedos que improvisávamos. Era quase tudo criado por nós. "Carrinhos-de-cana", "carrinhos-de-pau", jogos como a "espadinha" ou a "barra", ou o "pilha-a-pilha", eram tudo fruto da criatividade de cada um.

A verdade é que motivos para a diversão não faltavam. O pior era quando a noite já começava a cair e as nossas brincadeiras eram interrompidas pela voz que vinha lá de casa, a mandar parar tudo, porque era hora de se preparar para a ceia.

Claro que a forma como chegávamos a casa era imprópria fosse para o que fosse. A poeira e o lameiro estavam marcados no nosso corpo de forma evidente. Era necessário passar primeiro por um banho. Banho que era apenas meio banho, já que lavávamos as partes do corpo onde a sujidade era mais evidente. Nessa altura mesmo havendo duche era de água fria e como é fácil de entender em Santana, não era propriamente uma coisa muito convidativa. Mas muitas vezes lá teria que ser. Era a vida.

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