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Artigo de Opinião

Doutorada em História / Investigadora

20/04/2022 08:01

33 anos. Este é o tempo que conta. Estávamos em 1989, quando Bonnie W. Finney, uma avó norte americana, amarrou uma fita azul na antena do carro. Azul. Uma cor primária. Todas as cores, em absoluto, possuem um significado. Azul, a cor que se associa, de forma quase espontânea, a sentimentos como a simpatia, a harmonia, a amizade e a segurança. Também denota pureza, respeito e sabedoria. Atrevo-me a dizer que talvez seja a única cor na qual não predomina nenhum sentimento negativo. Ou não deveria. Mas, neste caso, leva-nos para uma lista interminável de emoções negativas. Simboliza a cor das lesões. Para esta avó, servir-lhe-ia para o resto da vida como uma homenagem ao seu neto, vítima mortal de maus-tratos. Como uma imagem constante na sua luta pela proteção das crianças. Que já não o seu neto. De todas as crianças. Dentro e fora da América. E colocou esta realidade na ordem do dia. Levantou questões, acordou o resto do mundo para o problema.

A repercussão desta iniciativa foi intensa. Aproximou as instituições, públicas e privadas, a sociedade civil, as próprias comunidades, que se viam perante tamanha responsabilidade. Cabe a todos nós, sem exceção, o dever de promover e fazer a defesa das crianças. Nunca somos em demasia. Fazer a prevenção, combater a violência contra as crianças e jovens, requer um trabalho em rede. Mas não só. Não podemos baixar os braços. A implementação de objetivos estratégicos, sobretudo no âmbito da prevenção e combate a todas as formas de violência, nos diversos contextos, nomeadamente na escola, em casa, nas diferentes comunidades que a criança e o jovem frequentam e no mundo digital, é mais do que um compromisso. É assegurar e garantir um futuro. A nós, e a eles. Sobretudo a eles, às nossas crianças e jovens.

Os maus-tratos são considerados como um grave problema de saúde pública, quer pela sua dimensão, bem como, pelas suas consequências, a curto, médio e a longo prazo. Também por isso, o alerta que aqui gostaria de deixar passa também por ser um desejo: que abril se possa cumprir em todos os outros meses do calendário. A sensibilização para esta temática, tem como grande objetivo, entre tantos outros, a promoção de uma cada vez maior consciencialização da nossa comunidade sobre os maus-tratos infantis. A sua importância é de tal ordem que abril passou a ser o Mês Internacional da Prevenção dos Maus-Tratos na Infância. Hoje, mais do que nunca, abril faz sentido.

A guerra que deveria ficar no mundo digital dos videojogos - e aqui, entramos num outro campo, com outros riscos associados, na medida em que uma grande parte dos jogos têm uma componente social muito pouco regulada, isto, em termos de supervisão parental, havendo por isso, risco de solicitação sexual, abuso psicológico (ciberbullying) e manipulação de crianças e jovens vulneráveis -, veio a comprometer, uma vez mais, a segurança e o bem-estar que todas as crianças e jovens deveriam ter como um direito garantido. Cabe, a cada um, e a todos nós, assumirmos esse compromisso e abraçarmos a necessidade, cada vez mais premente, de se intensificar todos os esforços para garantir níveis de vida adequados ao crescimento e desenvolvimento de todas as crianças e jovens.

São eles o futuro. É, para eles que hoje escrevo.

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