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Artigo de Opinião

Médica Veterinária

19/12/2024 08:00

Crescemos, muitos de nós, a ouvir e a replicar que “um homem não chora”, mas mentiram-nos: os homens também choram e são, à semelhança das mulheres, igualmente vítimas do patriarcado e do machismo.

Recentemente, foi divulgado um estudo, o primeiro do género, pela APAV, que apontou mais de 6000 homens como vítimas de violência no nosso país – e estes são os números divulgados, pois, sobretudo no género masculino, a “vergonha” do julgamento numa sociedade (ainda extremamente machista) impede-os de pedir ajuda e de denunciar a sua condição. Na região, foram cerca de 50 os homens que se queixaram de violência, sobretudo de violência doméstica (e sobretudo psicológica) em contextos de heterossexualidade, mas ainda assim, os contactos de queixa foram, comparativamente a outras regiões do país, em menor número.

E se a maioria destes crimes, como se mencionou, são perpetrados por mulheres em contexto de intimidade, há também outras configurações de violência contra os homens, como por parte de companheiros, ascendentes ou por outras relações, não necessariamente de natureza íntima, onde cabem também agressões sexuais, económicas ou mesmo difamação e coação. Os crimes de violência contra os homens podem ser (são) igualmente violentos e o nosso país e região (e a sociedade, em geral) não estão ainda preparados para lidar com este “fenómeno”.

A violência não tem género! A violência é uma questão humana e de direitos humanos, e não se pode fundamentar em desigualdades! Ou, como apontou Andrew Schneider, “a violência é uma questão de poder. As pessoas tornam-se violentas quando se sentem impotentes”. As vítimas, que podem ser homens ou mulheres, tendem a possuir algum tipo de fragilidade, física ou outra, psicológica, social, financeira, etc., e a sua resistência à denúncia advém do medo que sentem face ao agressor, que pode ser mulher ou homem.

Não obstante, há diferenças quer na forma predominante de violência, quer na vitimização experienciada por homens e mulheres, e uma prova disto é que não há sequer uma associação com casas de abrigo que receba exclusivamente homens vítimas de violência (doméstica ou outra), como sucede (e bem! e ainda assim com tantas lacunas por debelar) com as mulheres quando são vítimas. E esta falta de apoios equivalentes é um (outro) flagrante da desigualdade social entre géneros. Por outro lado, ainda hoje, na nossa sociedade, mesmo “ocidental e progressista”, as mulheres estão mais limitadas perante alguns poderes, incluindo pelo “poder da masculinidade” e do machismo que, por sua vez, vê os homens como vítimas improváveis nas relações, censurando mesmo a ideia do homem como vítima. Para o machismo, patriarcado e ideal tradicional de masculinidade (em que o homem tem de ser estoico, duro e forte), é inaceitável que um homem possa ser vítima de violência doméstica ou de outra, sobretudo em contextos de intimidade com mulheres (ou com homens).

E esta ideia, ainda tão enraizada entre nós, tem de ser desmistificada, pois reflete-se numa pressão sobre muitos homens com forte impacto de sofrimento para eles, a quem lhes é ainda negada a expressão de sentimentos e de fraquezas, inibindo-os de múltiplas emoções, como se isto da sensibilidade fosse apanágio do feminino...

Há que reverter estes paradigmas sob a capa discriminatória dos estereótipos de género, inclusive a que nos é imposta diariamente pela sociedade e pelos múltiplos canais de comunicação que ditam comportamentos e impõem padrões sociais distintos e diferenciados para o homem e para a mulher.

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