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Artigo de Opinião

Farmacêutico Especialista

3/05/2023 08:00

É curiosa a busca do homem para respostas a situações futuras, para as quais, pode apenas realizar um exercício imaginativo, e incidir essa procura através de paralelismos inocentes (ignorantes, mas honestos) com o advir necessariamente desconhecido, é um exercício que parecendo vazio, inútil quiçá, demonstra a relevância que atribuímos a esses eventos, tal como Epitecto discorre em o Manual de Epiteto, observando a vida enquanto percurso imaginativo e que os eventos/ pessoas/ factos, tem o valor que nós atribuímos-lhes.

A Vida enquanto percurso, é uma construção contínua, e de facto seria melhor vivida, quando a dedicação ao momento atual (presente) fosse total, já discorri sobre a ideia que, ou existe presente, ou então passado e futuro, e todos nós vivenciamos a mesma nestes dois campos, clarificando, temos fases, momentos da nossa vida em que vivemos o presente com intensidade e vontade única, por exemplo no nascimento de um filho, e temos momentos em que observamos a vida no prisma de um passado e futuro, por exemplo perante a morte de um ente querido, no surgimento de uma doença, em que facilmente deambulamos num passado e projectamos o futuro decorrente dos eventos descritos.

Uma das situações futuras que de tão certa, nos interroga, é o fim.

Num voo de domingo os rostos estão fechados, o cansaço sente-se e cheira-se, as forças quebradas, vencidas, na mente vários pensamentos afloram, um é a pressa de chegar, já não queremos a viagem por muito que a viagem seja o fundamental, sabemos que vamos chegar e não queremos chegar tarde àquele que é o nosso destino final, outro decorre de um vaguear mental resultado de um torpor indolente que nos assola, o balanço, felicidade pela viagem que agora termina, da sua riqueza, da sua marca, da sua dureza, mas também de aceitação o "Es Muss Sein" - tem de ser - de quem sabe que está a aterrar na realidade que não lhe pertencendo, faz parte!

A ingenuidade da vontade de observar a viagem sem epílogo, em busca de Felicidades Futuras, é coartada pelo aperto do Adeus que sentimos, é estupidamente nostálgico e avassaladoramente impotente, enleia-nos de tal forma, que já não há força para a revolta, essa a existir perdeu-se nas lágrimas da frustração - "Assim vamos teimando, proas contra a corrente, incessantemente cortando as águas, a caminho do passado que não volta" F. Scott Fitzgerald.

Aproxima-se a aterragem, despertamos dessa indolência, regressamos aonde pertencemos, exaustos sorrimos, não poderia ter acontecido de outra forma, aceitamos.

O final de vida é um voo de domingo, um regresso aonde pertencemos.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
18/12/2025 08:00

Há uma dor estranha, quase impossível de explicar, que nasce quando alguém que amamos continua aqui... mas, aos poucos, deixa de estar. Não há funerais,...

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