MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Economista

16/12/2024 03:30

O ensino de Filosofia em Portugal, como está estruturado, é uma oportunidade desperdiçada para preparar os alunos para um mundo globalizado. Embora o programa aborde os grandes pilares da tradição ocidental – de Platão a Kant –, negligencia por completo as teorias filosóficas asiáticas, nomeadamente as chinesas, que têm, hoje em dia, um impacto profundo na cultura, na política e na economia global. Esta ausência é profundamente lamentável, especialmente num século em que a China reemerge como uma das maiores potências económicas e culturais do mundo.

A filosofia chinesa, com raízes em pensadores como Kongzi (Confúcio), Laozi e Zhuangzi, oferece abordagens profundamente diferentes sobre ética, governança e a relação entre o indivíduo e a comunidade. A ética confucionista, por exemplo, centra-se em conceitos como ren (humanidade), li (ritos) e xiao (piedade filial), promovendo uma visão de moralidade que prioriza as relações interpessoais e a harmonia social. Estas ideias não são meras relíquias do passado; continuam a moldar a forma como a Sinosfera opera politicamente e socialmente. Ignorar este quadro filosófico é ignorar uma chave essencial para compreender uma das civilizações mais antigas e influentes do mundo. Por outro lado, o taoismo, com o seu foco na harmonia com a natureza e a rejeição de excessos, apresenta um contraste marcante com a visão ocidental da relação humano-natureza. A filosofia taoista é mais do que um sistema de pensamento; é uma lente para entender a sustentabilidade, a simplicidade e a fluidez – conceitos de crescente relevância numa era de crise climática global.

A falta de exposição dos estudantes portugueses a estas ideias filosóficas cria um handicap intelectual. Num mundo em que a China desempenha um papel preponderante na economia, na política e na tecnologia, não compreender os fundamentos filosóficos que guiam a sua esfera de influência cultural e as suas decisões é estar despreparado para lidar com os desafios globais. A inclusão de filosofia chinesa no currículo é, por isso, uma necessidade estratégica. Enquanto nos debates políticos ocidentais a liberdade individual é frequentemente a prioridade máxima, na tradição confucionista, por exemplo, a ênfase é colocada na ordem social e no dever coletivo. Para os jovens, futuros líderes portugueses, desconhecer estas nuances é perder terreno em qualquer diálogo global.

Limitar o ensino da Filosofia a uma perspetiva eurocêntrica é reduzir o horizonte intelectual dos alunos e privá-los de uma visão pluralista e equilibrada do saber humano. No ensino secundário, onde se formam as bases para o pensamento crítico e a compreensão cultural, esta lacuna é especialmente grave.

Portugal tem uma longa tradição de intercâmbio cultural com o Oriente. Desde os tempos das viagens marítimas até Macau, fomos pioneiros na ligação entre o Ocidente e o Oriente. No entanto, no que toca à Filosofia, parece que fechámos as janelas.

Reformar o currículo filosófico para incluir os grandes pensadores asiáticos não apenas enriqueceria o conteúdo, mas também prepararia os jovens portugueses para o mundo em que vivem – um mundo onde a China não é apenas uma potência económica, mas também uma força cultural e filosófica. Ignorar a filosofia chinesa é ignorar o mundo que está a crescer diante dos nossos olhos.

P.S.: Espera-se que os partidos com assento na ALRAM não dêem razão às palavras de Marcello Caetano, CI Presidente do Conselho de Ministros de Portugal, de 22 de Setembro de 1938, conforme plasmadas no estudo Açores e Madeira vistos por Marcelo Caetano em 1938 de Carlos Enes, publicado no Boletim do Núcleo Cultural da Horta n.º 14 de 2024.

OPINIÃO EM DESTAQUE

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Entre partidos e coligações, apresentam-se às eleições de 23 de março 14 candidaturas. Como interpreta a presença de tantas listas?

Enviar Resultados
RJM PODCASTS

Mais Lidas

Últimas