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Artigo de Opinião

Farmacêutico Especialista

14/12/2022 08:00

Sentimos o, fazer o bem não só como uma necessidade, mas sim como uma obrigação. No fundo a época natalícia coloca-nos perante uma avaliação existencial, em que ao realizar uma leitura na abundância que envolve os preparativos da época festiva, sentimos mais profundamente o vazio das falhas sociais.

A pobreza, a fome, e a solidão, são de difícil aceitação, e o Natal amplifica essas feridas profundamente abertas na sociedade!

O facto de o Natal ser observado sempre como época de fartura, coloca-o nos antípodas da realidade da pobreza, da fome, e da solidão, logo esta antítese pronunciada no plano social, torna-nos mais sensíveis, é quase um paradoxo ter de viver a abundância para se aperceber e concretizar, uma sociedade em que a pobreza, a fome, e a solidão existem.

A solidão é um problema esquecido, principalmente a solidão forçada, sentida no vazio existencial, aquela que rejeitamos, mas que não conseguimos apartar, e, sabemos bem, é nos idosos que a mesma apresenta um peso diferente.

10300 idosos a viverem sós na Madeira, não decorre diretamente daqui, que se viva solidão em todos estes idosos, mas estou certo que uma parte substancial destes a sentem no dia-a-dia.

Este vetar ao esquecimento àqueles que ajudaram a edificar o presente, é uma afronta à memória viva, esta falta de reconhecimento ao contributo em potencial que ainda apresentam para com a sociedade. O quanto beneficiaria a nossa sociedade com a riqueza da experiência de vida, a criação de pontes intergeracionais seria um contributo positivo para uma mais sólida edificação social dos nossos jovens que, quer queiramos, quer não, andam um pouco à deriva sem padrões norteadores de ação elevados e competentes, faltando-lhes bases e competências para a lide social (vide o consumo de antidepressivos e ansiolíticos em idades cada vez mais jovens em Portugal, os consumos de álcool e substâncias psicoativas, e comportamentos de risco, só para dar alguns exemplos) e seria uma estratégia válida para cumprir o desígnio da erradicação da solidão!

A solidão é obviamente um problema multifatorial, e que carece de uma análise aprofundada. Solidão não é estar sozinho, mas sentir-se só.

Por vezes trata-se de uma solidão forçada como no caso da mãe de Mersault colocada no asilo (o do "Estrangeiro", e não o da "Morte feliz "do A. Camus, apesar de ambas as personagens apresentarem dimensões semelhantes em taciturnidade e solidão), aquela solidão carregada de sentimento de abandono, de frustração, de revolta (só nos revoltamos com aquilo que acreditamos).

No caso de Mersault é a "causa" da sua condenação à morte, (ter morto um árabe na praia, é a causa, mas a validação da condenação decorre da indiferença para com a morte da mãe) este absurdismo é revelador da sociedade.

Perdoem-me, mas o problema não existe de 23 de dezembro a 6 de janeiro, mas sim durante todo o ano, e como tal a sensibilidade aumentada que observamos no Natal não deverá esmorecer após o período de festa.

Idealmente para atingirmos um equilíbrio existencial deveríamos optar por um Natal simples, um renascer, observar no Natal uma oportunidade de comunhão entre os homens, esse amor fraternal que deveria guiar e condicionar a ação humana, optar por um Natal simples, não são necessárias prendas, não é necessária fartura alimentar, não é necessário o excesso de bebidas de teor alcoólico, é sim obrigatório, um Natal simples, em família recheado de amor, essa matéria que nos une enquanto seres, retiremos da solidão todos aqueles que nos são queridos, não no Natal, mas sempre, lembremo-nos daqueles a quem a vida sonegou a companhia e esperança, e se cada um acolher os seus, gera-se uma cadeia de amor.

Cumpra a sua parte!

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