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Artigo de Opinião

silviamariamata@gmail.com

22/10/2023 08:00

Hoje, a prosa é outra. Quando duas amigas se encontram, é assim: "O teu príncipe já acabou o curso?" E a outra, se o filho corresponde às expectativas, desenrola um mar de ondas de sucessos, discursando sobre o seu filho-príncipe, que faz isto e aquilo e que está no quadro de honra daqui e dali. E que é o melhor, ou quase o melhor, nisto e naquilo! Pois sim, bom proveito! Se o rapaz é meio torto e molengão, o caso muda de figura e a conversa vai enviesando devagarinho, por vergonha ou desonra, para a vaguidão das palavras. "Olha, vai andando, vai chegar lá! Cada um tem o seu tempo!" Etecetera, etecetera…

É a esse propósito que me lembrei dos pequenos e das pequenas de outros tempos de uma escola de 2º e 3º ciclos, que já não existe. Só na minha memória, ela vive com o seu cheiro a cera e a pão no forno. E o barulho que me chega aos ouvidos é de algazarra e folia dos pequenos a descer por umas escadas a baixo aos rolões. Ficaram também pequenas histórias tão cómicas, como trágicas. Sim, trágicas, porque, se de um lado há comédia, do outro, há um pouco de tragédia. Às vezes, só rimos com coisas tontas e tristes.

O primeiro registo que a minha memória alcança é do fim dos anos 80. Nesse tempo, havia um slogan, que dizia assim "Ser amável é tão agradável… Ser amável!" Ora, eu fui, juntamente com uma colega mais velha do que eu, ao Teatro Baltazar Dias. Claro que era trabalho e levámos, à nossa responsabilidade, duas turmas, cada uma com 30 alunos. Os pequenos soltos, puseram-se a cantar pelo caminho abaixo, em altos berros "Ser amável é tão agradável… Ser amável!" E a minha colega achava alguma graça àquilo e eu não achava graça nenhuma, tão envergonhada ia com toda a gente a sair das lojas e das casas a vir ver o que era aquele povio todo. Ela, com a sua calma e experiência, seguia em frente muito digna e altiva. De vez em quando, eu olhava para trás a dar ordens àqueles brutos para se calarem, mas eles riam na minha cara e continuavam a cantoria. Hoje, estes jovens são homens e mulheres ativos, criados num tempo que já não existe…

Outro episódio foi-me contado por esta colega de quem acabo de falar. Numa aula da sua Direção de Turma de 5ºano, ela tinha mandado fazer um trabalho escrito. Todos a trabalhar, menos um. Ela chegou-se a ele para averiguar. E o pequeno respondeu: "Ah professora, eu não sei fazer esta merda!" A professora teve de o chamar à atenção; que não era assim que se falava. Mas o pequeno insistia, "Mas é verdade, professora, eu não sei fazer esta merda!" Foi então que ela ameaçou "Olhe, menino, se o menino continuar com essa linguagem, eu vou ter de chamar o seu pai à escola!" E foi quando o pequeno pediu: "Professora, pelo amor de Deus, não faça isso, se meu pai sabe disto, ele fode-me os cornos todos!" Desculpem-me o palavreado calão, mas isto é tão verdade! Não sei o que foi feito deste jovem…

Outro episódio mais recente é o de um professor que, perto da reforma e com uma direção de turma complicada, pediu para interromper a minha aula para dar um recado daqueles à turma. Ele vinha desanimado e triste e pôs-se a se lamentar que já tinha aquela idade, que qualquer dia lhe dava um ataque com as patifarias deles, e mais isto e mais aquilo… Há um peste que de lá de trás responde: "Olhe, professor, se for esse o caso, o que eu posso fazer é telefonar ao meu pai, porque ele tem um amigo que tem uma agência funerária e assim já fica tudo arrumado…" Gargalhadas sem mais ter fim…

Quem pode com isto? Só espero que estes pequenos saibam ler e fazer contas para, no futuro, tomarem o encargo das nossas pensões de velhice…

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