Com raízes etimológicas no alemão, o termo Schadenfreude é uma combinação das palavras “Schaden” (dano ou prejuízo) e “Freude” (alegria). Significa, pois, o prazer que sentimos com o infortúnio alheio. Embora não tenha tradução direta noutras línguas, existem globalmente expressões para descrever este fenómeno. Os japoneses têm um provérbio: “O infortúnio alheio é doce como o mel.” Já um ditado popular português expressa ideia semelhante: “Pimenta nos olhos dos outros é refresco.”
Como podemos constatar, trata-se de um fenómeno que transcende as fronteiras linguísticas e geográficas. Todos já nos divertimos com o fracasso ou a humilhação alheia, como quando secretamente sentimos aquele aumento no ego quando um colega de quem não gostamos muito, estraga, faz asneira, algo a que os psicólogos chamam de comparação social descendente. Mas como é uma emoção malvista, pode ser difícil de reconhecer. A este respeito, um estudo publicado na revista científica Personality And Individual Differences desenvolveu um cenário, no qual um empresário rico conduz um carro desportivo e ultrapassa-o a caminho de casa, é apanhado por excesso de velocidade e receberá uma multa pesada. Experimentar sentimentos de satisfação, diversão e prazer nesta situação é um exemplo clássico de Schadenfreude e aquelas pessoas com níveis mais elevados da Tríade Negra (maquiavelismo, narcisismo e psicopatia) são as mais propensas.
Entre os motivos que explicam este fenómeno, destaca-se um estudo publicado na European Review of Social Psychology, onde descobriu-se que as pessoas o sentem mais intensamente quando este proporciona comparações sociais que aumentam a sua autoestima. Já investigação publicada na New Ideas in Psychology decompõe este fenómeno em três formas inter-relacionadas: 1) Schadenfreude de Rivalidade – nasce da nossa necessidade de fazer comparações sociais, focadas no nosso próprio estatuto social em comparação com o do sofredor; 2) Schadenfreude de Agressão – deriva do sentimento de identidade social, traçando uma linha entre nosso grupo interno “superior” e o grupo externo de que não gostamos, sendo o seu infortúnio gratificante; 3) Schadenfreude de Justiça – recorda-nos que aqueles que violam a justiça social serão punidos de alguma forma e que, indiretamente, essa é a nossa recompensa por nos mantermos fiéis aos nossos princípios.
Contudo, entregar-se demasiado a este fenómeno prejudica os relacionamentos e esgota as reservas de empatia, isolando-nos. Coloca também a bússola moral em risco, levando ao aproveitamento da queda dos outros ou a ações para garantir essa mesma queda. A nível laboral cria um ambiente tóxico, corrói o espírito de equipa e a confiança, daí a necessidade de domarmos esta besta emocional. O segredo reside na moderação e autoconsciência. Ao parar para compreender a origem das nossas emoções, podemos obter uma visão mais profunda de nós próprios, promovendo a inteligência emocional e uma resposta mais equilibrada e empática.
Em suma, o Schadenfreude pode ser catártico, mas em excesso transforma-nos em pessoas pessimistas, cínicas ou em algo muito mais sombrio. Uma solução passa por desenvolver um pouco de empatia. Na grande tapeçaria que é a nossa vida, cada fio — seja um colega, amigo ou familiar — desempenha um papel. A forma como escolhemos entrelaçar ou cortar esses fios pode definir a beleza ou o caos da imagem final. Parafraseando Schopenhauer: “Sentir inveja é humano, saborear o Schadenfreude é diabólico.”