Quando navegamos nas redes sociais parece que Portugal se transformou no faroeste. Criminalidade violenta em barda, vídeos chocantes que afinal não se passam em Portugal, burcas aos montes que abrigam criminosos perigosíssimos e que é de todo urgente proibir, claro, dizem os da extrema-direita, apoiados pelos partidos da direita porque acham que assim não vão perder votos.
Na apresentação da pretensa lei que visa uma pretensa maior segurança neste país, falou-se em burcas e em como os partidos da extrema-direita só querem mesmo defender a liberdade e os direitos das mulheres.... Ui!!! Até me comovi! Tive de ir buscar um lenço para afogar minhas lágrimas copiosas de alegria e agradecimento, tal a bondade da legislação que não fala em burcas, mas que afinal parece que tem tudo a ver com elas. Nunca vi estes senhores e senhoras deputadas a reclamar contra os indivíduos da extrema-direita que, de cara tapada, vão atacar pessoas em manifestações sobre temas que odeiam. Também não ouvi qualquer pio quando os polícias se manifestaram de cara tapada, ou quando as claques de futebol usam lenços e máscaras para não serem identificados quando provocam distúrbios. Podem dizer-me: mas esta lei é para isso mesmo! Pois, dizem que sim, só que na sua apresentação só os ouvimos falar em burcas, como se esse fosse um problema gravíssimo deste faroeste em que afinal Portugal se tornou. Parece que a habitação ou a saúde funcionam lindamente, pois não apresentam qualquer proposta de lei com soluções para estes problemas. Preferem criar, propositadamente, um fogo fátuo que leve as pessoas a dividirem-se entre quem é a favor da burca e quem não é, como se fosse isso que estivesse em cima da mesa. E assim têm dividido e polarizado o debate em Portugal, sem proporem soluções para os problemas que realmente nos afetam, sejam elas a curto, médio e longo prazo. Não sabem fazer política. Sabem, sim, promover o ódio e a vingança, para rapidamente deitarem abaixo o sistema democrático. Falam em acabar com as “mordomias”, mas são os primeiros a usar e abusar delas, como se tem visto no parlamento.
A coerência é algo que não lhes assiste. Ora reparem: estes paladinos da segurança de Portugal defendem tanto, mas tanto o sexo feminino que até esquecem e desvalorizam o maior crime que afeta mulheres e crianças no nosso País: o da violência doméstica. Continuamos a ter cerca de 25 mulheres por ano assassinadas. Para eles, isso não representa qualquer problema, até porque no seu grupo parlamentar ou nas listas autárquicas têm arguidos por violência de género ou abusadores. Por outro lado, no parlamento usam o insulto constante a deputadas que os questionam sobre as suas ideias e teorias ou que lhes respondem. Estes queridos defensores dos direitos e liberdades das mulheres, como não sabem argumentar, até beijos lhes enviam da mesa da Assembleia, ou fazem sinais para que se calem (com toda a certeza para que elas não digam asneiras. Estão só a protegê-las delas próprias, quais cavaleiros andantes, porque sem estes machos elas não sobrevivem neste mundo cão...). Claro que nada disso é insultar ou diminuir as mulheres. De todo! Toda a gente sabe que elas adoram ouvir estes piropos da boca de tão nobre gente... E ficar-lhes-ia bem aceitarem os conselhos que estes machos tão zelosos do bem-estar feminino lhes estão sempre a tentar dar. Só que elas não querem ouvir! Que maçada!
Posto isto, já percebemos que para resolver o problema da segurança em Portugal e defender a liberdade, a extrema-direita decidiu que o melhor é proibir coisas às mulheres. Começaram pela burca. Daqui a uns tempos veremos a proibição dos decotes, das minissaias, tops ou outra coisa qualquer. Só assim as podem defender dos males que os homens lhes fazem porque elas são muito provocadoras e eles depois não se conseguem conter... Toda a gente sabe que elas são perigosíssimas e que só os homens as podem salvar.
Por mim, mostro-lhes o dedo do meio. É que estes energúmenos nem escrever sabem. Só compreendem a linguagem básica dos gestos e desenhos.