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Artigo de Opinião

10/09/2022 08:00

Logo nos primeiros tempos surgiu uma pequena seção intitulada "O Público errou". Nela, corrigiam-se pequenas imprecisões, erros factuais, gralhas que pudessem levar a interpretações ou identificações erradas em notícias da véspera. Esta decisão editorial da assunção voluntária e pública do erro foi, paradoxalmente, das mais importantes na afirmação como jornal nacional credível e confiável. Por um lado, ao assumir a humanidade do erro, o jornal tornou-se mais humano, mais próximo do leitor, por outro ao reconhecer o erro pontual, atestava a confiança nas restantes notícias e toda a gente envolvida na produção do jornal aprendia e se tornava mais exigente.

Passadas três décadas, este é ainda um bom exemplo de avaliação interna dos processos de instituições em que a comunicação e o fator humano são muito presentes e a confiança é essencial.

Por vezes a comunicação externa das instituições é encarada como unívoca, de dentro para fora, mas cada vez mais, quem não sabe ouvir não pode dar boas respostas. E se calar, não comentar, nunca é boa resposta, é especialmente pior em tempos de crise.

Na abordagem ao combate às dependências adotada na Madeira ao longo das mesmas três décadas, temos de reconhecer que nem tudo correu bem (como está à vista, principalmente no Funchal). O primeiro passo tem de ser mesmo esse: reconhecer que há falhas. Temos de reconhecer que o proibicionismo, e a aposta quase exclusiva na prevenção, dissuasão e educação para o não-consumo, com todos os méritos que possa ter (e tem), não é suficiente.

No entanto, por parte das autoridades regionais responsáveis, nem um comentário, nem uma palavra neste momento que é, claramente de crise. Na melhor (pior?) das hipóteses ensaia-se uma narrativa de resposta securitária para problemas que são essencialmente sociais e de saúde.

Sabemos que todos os anos há várias sessões de esclarecimento, quase todas nas escolas, promovendo estilos de vida saudáveis, sem tabaco, sem álcool e sem drogas. Mas também sabemos que todos os anos há uma franja considerável da nossa juventude que passa através desse filtro: Apesar de ter assistido a essas sessões, começa a fumar, bebe em exagero e/ou experimenta drogas.

O que falha, então? Isso é o que, infelizmente, não sabemos. Desde logo, mais do que aquilo que resultou, temos de procurar saber o que falhou. É a mensagem que não é apelativa? É a forma de comunicação? É o público-alvo que não comparece nessas sessões?

Mas sabemos também que uma estratégia de dissuasão não é eficaz para quem já se iniciou nesses consumos. Se queremos melhorar alguma coisa temos de preparar programas para essas pessoas também, mesmo que isso implique implementar estratégias mais arrojadas. Programas que passem por educar para a minimização de riscos (que ainda assim são sempre demasiado elevados), testagem gratuita de drogas, criação de sítios de consumo mais seguros onde se potencie o contacto com agentes de saúde que sirvam de ponte para o início da recuperação, por exemplo. Não se trata de normalizar ou sequer validar estas dependências, mas de evitar uma degradação mais rápida e promover mais oportunidades de recuperação e reintegração.

Nesta guerra difícil, não podemos deixar ninguém para trás. Como em qualquer outra patologia temos de procurar minimiar o sofrimento de quem é afetado, dar um mínimo de qualidade de vida e proporcionar condições para recuperar todas as pessoas que conseguirmos.

Hoje, pelas 10:30 no Hotel Boutique Castanheiro, o PS-Madeira promove um encontro de especialistas. É necessário ouvir quem está no terreno e pode propor abordagens alternativas com espírito. E a cada nova abordagem planeada e executada, avaliar os resultados, corrigir o plano e recomeçar.

Assumir os erros, não fragiliza. Corrigi-los, cria confiança e ajuda a resolver problemas.

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