Antes de qualquer outra coisa, quero pedir desculpa. Perdoem-me pela ausência. Há uns tempos que não vos escrevo. Mas eu sinto que estou a ficar velho para isto. Venderam-me a ideia de que, com o tempo, ficaríamos mais calmos. Mais pacientes. Men-ti-ra! Nada mais falso. Do alto dos meus 40, eu já não tenho saco para aturar muita coisa. Tenho selecionado muito mais as companhias. Diria até que, ao contrário do que acontecia nos meus 20s, quero muito desconhecer gente. Sim, numa primeira fase passam de amigos a conhecidos. De seguida? Passam-me ao lado. E assim vou vivendo... Em sítios cada vez mais bem frequentados.
Porém, durante esta minha pausa sabática, fui visado por uma sumidade desta terra. E queiram desculpar-me mais uma vez, mas eu não sou obrigado a sofrer sozinho. Se vocês gostam tanto de mim como dizem, vão ter que se sujeitar a isto comigo.
Então foi assim: há dias, num artigo de opinião, um senhor sénior dissertou sobre a atenção dada ao seu clube pelos meios de comunicação social. Ainda que de forma deselegante, na minha modesta opinião, para com os jornalistas do próprio periódico onde escreve, implorava por mais atenção. Pedia espaço, publicidade e actualização constantes no on line. Entendo. Tempos houve em que sabia de tudo sem ter que ser pelo Diário.
No entanto, e sem que nada o fizesse prever, mudou o alvo. O seu assumido incómodo prendia-se com a presença, num programa televisivo de desporto, de um comentador. Sempre salvaguardado com um “nada pessoal”, claro. Que raios faz um tipo de um clube que já acabou a comentar a actualidade desportiva, perguntava o senhor. E tem toda a razão. Pelo menos a sua razão. Razão essa que não deve andar muito longe de coisas do género: perdeu o filho? Lamentável, mas perdeu também a legitimidade para falar de parentalidade. Tem carta, mas ficou sem carro? Azar. Lá se foi o direito a debater a mobilidade. Foi lesado no Banif? Esqueça a discussão sobre finanças e economia. Foi a votos para presidir um clube e perdeu? Pendure o taco e repouse as bolas. Pronto. Faz sentido. Eu aceito.
Mas, como em tudo na vida, há que procurar soluções para este mundo tão imperfeito. Há coisas que, por mais que o desejemos, não são como nós queríamos que fossem. A Mortágua, por exemplo, revoltada com o diferendo israelo-palestiniano, meteu-se numa flotilha e foi em direção a Gaza. Eu não digo para o senhor fazer o mesmo. Mas então e se fosse algo parecido? Seguir o seu sonho antigo de dar uma volta ao mundo de barco? Vá, também não é preciso tanto. Por mim pode dar apenas meia volta. A outra meia creio não haver necessidade. Ou então fazer como eu humildemente sugeri no tal programa e ponho em prática: não consumir o que não nos faz bem.
Ui ui. O que eu fui fazer da minha vida?! Possesso, o senhor, tratou logo de mostrar a sua delicadeza e boa educação, bem como o respeito pela liberdade de opinião que apregoa ter. Para começar, chamou-me de “pérola híbrida” e acusou-me de ter pegado com ele. Os meus filhos, ao lerem, perguntaram-me o que queria isso dizer. Sem resposta, disse-lhes para lhe perguntarem da próxima vez que o virem por aí. Quanto ao me ter pegado com ele?! Cruzes credo. Eu?!? Eu até estava quietinho. Palavra de honra. Não me recordo de uma única vez que tenha gasto energia com tal ser. Prometeu-me “carga pesada”. Isto entre aplausos dos seus pares.
Uma senhora doutora aconselhava-o a não ligar. “Já viu alguém atirar pedras a árvores sem frutos?”, perguntava. Eu cá não sei como é que vocês chegam à fruta, mas eu costumo comprá-la. Não tenho muita pontaria, pronto. Outro, reforçava: “não te incomodes. Não vale a pena ... não dês palco”. O mesmo que dizia ter-me confundido com “o Joaquín Cortés”. Só pode ter sido pelo chapéu e por não se cruzar comigo há algum tempo. Porque se há coisa que eu não tenho é jogo de cintura para passadas flamencas ou coluna flexível para muitas vénias. Outro dizia que eu era uma “tristeza triste” e congratulava-se por eu não frequentar os cafés “dele”. Não levei a mal. Eu faria o mesmo se se dirigissem ao meu dono e eu não percebesse a linguagem. Outro agarrou-se à expressão popular “os cães ladram e a caravana passa”. Achei de péssimo tom fazer alusão a canídeos quando um de nós (e não sou eu) é conhecido por pastor alemão. Ainda no reino animal, um outro perguntava “quem é esta lula?”. Perguntei-me o mesmo. A foto de perfil “dizia-me” alguma coisa. Era do, não mais nem menos, presidente do Automóvel Clube de Portugal. Fiquei todo inchado. Parecia um polvo. Não são todos os dias que estas celebridades carregadas de dinheiro e despojadas de valores despertam para a nossa existência. Até porque eu não sou sócio e então agora é que não vou ser mesmo.... Lá lhe explicou, o autor, que eu era “do pior que há por aqui. Raspa dentes!”.
Não satisfeito, no dia seguinte, nova publicação com foto minha e legenda: “a palhaçada do palhaço”. Com isso, naturalmente, nova ronda de piropos da sua legião de fãs (cerca de uma dúzia, dúzia e meia) a que eu vos vou poupar.
Não havia, nem há, nada a fazer. É a liberdade de expressão no seu expoente máximo. Curiosamente liberdade essa que é defendida pelo “dono disto tudo”. Pomposo, escrevia por estes dias (qual perseguição qual quê), que é “viciado na liberdade que implica permitir que se pronunciem ideias e opiniões que não sejam do agrado de todos”. Hum hum. Ninguém diria o contrário. “A garotice gratuita não me atrai. Repudio e desprezo. É falta de educação.”, reforçou o ser com mais elevação que eu já vi à face da Terra. De seguida, a caduca estratégia de tentar pôr uns contra os outros. Como? Insinuando que a minha opinião (coisa que, como democrático, considera, por si só, uma ofensa) tem a complacência de moderadores de programas e, pela mesma ordem de ideias, julgo eu, de diretores de jornais e afins, quando a minha opinião apenas à minha pessoa pode e deve ser veiculada. Por fim deixa uma curiosidade: “o referido artigo teve, na sua reprodução no Facebook, um primeiro “Like” do dr José Luís Nunes, por quem mantenho admiração e saúdo”. Uau. Que vitória. Mas não se iluda. Ele às vezes carrega em coisas sem saber. Prova disso são os artigos que o filho escreve e, por engano, partilha nas redes sociais. Tenho para mim que o faz sem querer. Só pode. Não raras vezes, alerto-o para os riscos que corre. E ele, na ânsia de o apagar, partilha de novo. E de novo. E de novo. Coitado. Já quanto à admiração que lhe dispensa a sumidade cá do burgo, registo. Registo sim senhor. Mas também mal seria. O homem tem lá culpa do filho que tem?! Não tem. Família não se escolhe.
Por outro lado, o que se faz com o nosso tempo sim. E eu prometo que esta foi a última vez que o perdi (e vos fiz perder) com isto. A gente deste calibre eu só peço uma coisa. Que Deus Nosso Senhor os elimine. Perdão. Porcaria do corretor. I-lu-mi-ne. Ilumine e os guie por bons caminhos. É isso. E desculpem qualquer coisinha.