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Artigo de Opinião

Advogada

13/04/2023 08:00

Perguntei se no último dia não tinha festa. Com ar muito admirado respondeu que não. Já no Carnaval foi assim, nada de festas, nada de retoiça, nada de baile.

Bem sei que poderá e certamente, não será assim em todas as escolas, mas para a sua festas "é cena que não lhe assiste", o que é uma pena.

Voltando ao passado, estamos na década de noventa na Escola Preparatória da Ponta do Sol (era assim que se chamava e, nos sétimo, oitavo e nono o "ensino unificado"). Inicia-se o ano escolar e começa-se a pensar não nas notas de final de período, mas nas festas de final de período. A primeira seria a de Natal, não era comum haver baile, mas havia apresentações, teatro, cantoria e troca de presentes. Eu gostava dum "boneco de loiça", as minhas colegas preferiam peluches ou canetas brilhantes, raras à altura, uma vulgaridade agora.

A de Carnaval era, indubitavelmente, o expoente máximo da festança do ano escolar, os dois "polos" escolares, da Vila e da Lombada, reuniam-se em desfile pelas ruas, agora entupidas de mesas e carros, da baixa pontassolense, deitando pouco ecológicos confettis e serpentinas, tocando tambores, gritando, cantando, carregando rádio cassete às costas com músicas carnavalescas.

À tarde subíamos ao edifício da Lombada, o Solar dos Esmeraldos, onde se almoçava arroz de frango nas escadas da Igreja, com um "sumo" de laranja a acompanhar. Forrado o estomago era altura do baile, músicas pop da altura, das porreiras, que os miúdos de agora consideram clássicas, para não dizer da Idade Média. O baile era pago, geralmente cem escudos, e o bilhete era um carimbo da escola no braço ou nas costas da mão. Dançava-se alegremente e em expectativa das músicas slow para que os casais de namorados pudessem exibir os seus amores ou os enamorados pudessem avançar nos seus intentos. Muito namoro começava e acabava naqueles eventos.

A meio do baile, do de Carnaval, anunciava-se as trupes vencedores e a rainha vencedora do desfile. Era uma emoção, aliás, parecida a uma final da seleção portuguesa de futebol. Um orgulho vencer em qualquer das categorias que, felizmente, tive o prazer de sentir.

A Páscoa significava primavera e primavera significava hormonas aos saltos, hormonas aos saltos… baile, o baile da Primavera, mesmo sistema, carimbo na mão dava entrada ao salão do Solar onde se dançava e enamorava com a diferença dos trajes cuja temperatura já permitia reduzir.

No final do ano letivo não haveria baile, que seria substituído por uma visita de estudo algures na ilha, mais arroz de frango e papos-secos dentro dum saco de plástico.

Entretanto, como aqui também já falei, teriam se passado algumas lições cem, com música baile, tortas Dan Cake e pó Tang.

Hoje o meu filho não tem baile de Carnaval, Primavera, lições cem e eu fico triste, as melhores lembranças que tenho da escola são esses momentos, são as memórias para a vida e não, nada tem a ver com vida airada ou absentismo, muito pelo oposto, tem a ver com laços de amizade, de inimizade, de aprender a viver as relações em sociedade.

Quo vadis Bailes, Lições 100, visitas de estudo? Foram substituídas por atividades extracurriculares é certo, mas onde se exige concentração e esforço. Faz falta uma atividade que não exija nada em troca, só existir e ser feliz.

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