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Artigo de Opinião

Farmacêutico Especialista

27/05/2022 08:01

O Homem necessita de futuro, é esse o seu propelente natural, os dias maiores, confortáveis, iluminados, transportam-nos para uma sensação de bem-estar, não fora a luz visível um antidepressivo validado cientificamente, logo permite a criação de interesse, condição essa fundamental para nos guiar e confere a esperança necessária para nos manter nessa demanda.

Todos sabemos que a sanidade mental e física decorre de um fino equilíbrio, entre uma série de determinantes, se é uma verdade insofismável que vivemos o nosso mundo imaginado e como tal o nosso processo de vida não é mais que um exercício imaginativo, a importância que damos às nossas vivências, boas e más ou o simples aspecto de as observar como tal, é como tal, a nossa mente que controla a nossa vida e por ora o poder de uma vida sã reside em nós.

O ócio desempenha então um papel fundamental para esse equilíbrio, e se a definição de ócio encerra em si uma conotação depreciativa de mandriice, não é menos verdade que essa mesma definição comporta, o gozo agradável e pleno do vivenciar a vida.

A riqueza da vida consiste em fruir os bons momentos, como factor motivacional, como mecanismo de compensação vivencial, e são esses os momentos que aliviam a carga, o peso da vida que transportamos, qual pedra de Sísifo à qual nos condenamos a transportar, "Mas, no fim de contas, uma pessoa precisa de mais coragem para viver do que para se matar" ACamus.

Alerto que não pretende este texto ser uma ode ao ócio, em oposição ao trabalho, nem justificar o ócio no sentido da preguiça vazia, mas sim devolver ao signo o seu real valor e reconhecimento do seu contributo para uma vida sã, isto é, transportar o conceito de um ócio responsável conducente a um equilíbrio vivencial.

Observemos que as manifestações artísticas, que existem enquanto relação com o outro, com o mundo, que encerram em si a subjectividade necessária de uma mensagem, de uma visão, ou da expressão do universo mental do autor, necessitam de audiência, e aqui temos o bom exemplo de uma forma de gozo agradável e do pleno vivenciar a vida, tenho por hábito dizer que se os Médicos, Engenheiros, Farmacêuticos, etc. são operacionais do exercício vivencial, são os artistas que conferem sentido à mesma. Mas o ócio pode ser vivenciado enquanto contributo positivo para a sanidade vivencial de tantas formas, passear sem destino, comer um gelado ou observar o mar em silêncio, até o "dolce far niente" tem um lugar de destaque neste campo.

Confesso que não saberia lidar com um exercício vivencial sem arte, logo sem tempo dedicado ao ócio, isto eleva os meus níveis de produtividade, permite criar futuro observar o mundo saindo do mesmo, e sentir que vivencio a vida e que esta existe sem necessitar de uma razão.

Quando há poucos dias e com um nível elevado de afazeres parei por pouco mais de 1h30 para ver um filme, "Breathe in" de 2013 em que para além de uma trama bem urdida, havia o complemento de poder ouvir um piano genialmente tocado com a melodia de Chopin - Ballade No.2, rejuvenesci e ganhei motivação extra, ou quando logo ao início de "Donnie Darko" de 2001 começamos a ouvir Echo and the Bunnyman - Killing moon, a mente eleva-se, ou ler as primeiras linhas da "Morte Feliz" de ACamus a mente ilumina, revolta-se, ganhando novo alento.

…e o que temo da morte é que ela me dirá que a vida passou sem mim. A Camus.

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