MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

HISTÓRIAS DA MINHA HISTÓRIA

6/01/2023 08:00

Com redes de camuflagem, feitas por voluntários, improvisou-se a árvore de natal numa praça de Mykolaiv, no sul da Ucrânia. Para quem a olha através do ecrã da televisão mais parece uma pirâmide de trapos, mas os sorrisos dos que a rodeiam mostram que nela veem mesmo uma verdadeira árvore de natal. Uma mulher jovem, segurando a filha pela mão, interpelada por um repórter, afirma: "apesar da guerra, não podemos privar as nossas crianças do natal, não as podemos privar da alegria, precisamos vê-las sorrir". A menina a seu lado, com um sorriso grande a iluminá-la, estica-se para o microfone do jornalista e acrescenta: "se todos sorrirmos, a guerra acaba". Todos riem à sua volta e eu sorrio também, aqui, a muitos quilómetros de distância. Sinto-me enternecida pela inocência crédula da criança e triste porque essa mesma capacidade de acreditar me falta. E, embora sabendo que um sorriso não terminará a guerra, por muito bom que fosse, não deixo de crer que pode ter a sua magia. Lembro um pensamento que na minha juventude li e sempre mantive em mente. Não sei quem o escreveu, mas dizia mais ou menos assim: "Sorri um momento; ao ver-te, sorrir, outro sorrirá e, de um em um, o teu sorriso propagar-se-á e o mundo sorrirá porque tu sorriste".

Um sorriso pode fazer a diferença e pode contagiar ou melhorar a disposição daqueles com quem nos cruzamos. Contudo, também pode ser mal interpretado ou constituir mesmo uma provocação. Imaginemos dois beligerantes; os sorrisos de uns provocarão decerto a raiva dos seus inimigos. Temos de concluir que nem todos os sorrisos são benéficos ou despertam simpatia. Nem todos desencadeiam carinho, nem todos são alegres. Há-os tristes, enigmáticos, cínicos e falhos de autenticidade. Um sorriso pode ser mesmo uma forma de agressão ou de ofensa. O sorriso condescendente, paternalista, pode ser uma manifestação de exibição de segurança dominadora, de ascendência sobre o outro que, intimidado, reagirá constrangido. Temos ainda o sorriso profissional que se abre e fecha num piscar de olhos - um distender de lábios que não brilha na inexpressividade do resto do rosto. Sim, porque, quando sorrimos genuinamente, seja com ternura, com raiva, cinismo ou desprezo todo o rosto se mobiliza nessa manifestação.

Como sorriremos em 2023? A crer nas perspetivas anunciadas por comentadores e jornalistas, viveremos um tempo de tormenta na economia. Ainda atónitos perante o sonho czarista a arrasar a Ucrânia, vemos outros assomos de saudosismos imperialistas a insinuar-se, como recentemente na Alemanha. A degradação do planeta prossegue com a destruição de habitats, extinção de espécies e consequentes desequilíbrios ambientais. Assistimos do sofá da sala, esquecendo-nos que, afinal, não somos espetadores no filme dos noticiários; somos protagonistas. Estamos informados sobre as causas e até sabemos quais as soluções - pelo menos algumas. Quando afetados diretamente afligimo-nos, mas logo esquecemos, adiamos alterar os hábitos em que nos instalámos e perpetuamo-los, ainda que a preocupação nos ensombre ou roube o sorriso.

Nas nossas vivências particulares podemos esbanjar afetos e respeito e assim iluminar sorrisos. E, se é verdade que um sorriso não porá fim à guerra, ele poderá, por certo, ajudar a melhorar o mundo, começando pelo que está perto.

Aos meus leitores, desejo muitos motivos para sorrir com alegria em 2023.

OPINIÃO EM DESTAQUE

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Concorda que Portugal deve “pagar custos” da escravatura e dos crimes coloniais?

Enviar Resultados

Mais Lidas

Últimas