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Artigo de Opinião

21/07/2022 08:01

A maioria das mulheres nunca a ouviram. Outras mulheres sim, talvez as que já não estão entre nós porque foram mortas por estes homens.

"Ele entrou no café onde sempre ia, ouviu algo que não lhe agradou, saiu do café, chegou a casa e matou a sua esposa". Ouvi na TV.

"Não és minha, não és de mais ninguém!" Normalmente surge depois de uma mulher decidir terminar/deixar um homem, que por sua vez acha que esta mulher é propriedade dele, independentemente do tempo da relação ou da idade dele e dela.

Sempre que uma mulher é morta são "atiradas pedras" aos direitos que nós mulheres temos conquistado e é preciso perceber a gravidade disto.

Uma relação que alterna entre o fusional e o conflito, onde a dependência entre os dois é frequente, descreve muitas relações com violência.

Temos urgentemente de mudar o modo como descrevemos as relações amorosas.

É comum ouvirmos "Ele/ela é a metade da minha laranja". Para uma laranja descer uma rua sozinha, tem de estar inteira (redonda). Meia laranja para e só desce a rua colada à sua outra metade.

As melhores relações são entre pessoas (laranjas) inteiras.

As metades implicam dependência e posse, que estatisticamente é mais do homem para a mulher mas, também existe ao contrário.

A maioria das mulheres agora com 70/80/90 anos, foram obrigadas a aceitar a "posse dos maridos em relação a elas". Muitas destas mulheres depois de viúvas sentiram liberdade, de "rolar em estradas sozinhas". Afinal, nunca foram metades como as manipularam a ser.

A manipulação da "meia laranja" está presente em todas as gerações.
Se somos partes não somos um todo, tornamo-nos muito mais vazios e muito mais frágeis!

Mas há relações ainda piores, a necessidade de alguns homens acrescentarem algo ao "seu tamanho", arranjam mulheres que servem como "troféus" para desfilarem com elas e sentirem-se "maiores". Elas na resposta ao seu vazio e procura de valorização, aceitação e amor cedem a estes papéis. Mulheres objecto terão sempre dono…

Há mulheres que ficam nestas relações.

Segundo um estudo de Conceição Neves: estas mulheres não conseguem desistir da relação, porque acreditam que o sacrifício pelos outros é uma virtude.

Na Madeira, só este ano as nossas Casas de abrigo já acolheram 27 mulheres.

Fugiram da violência, muitas com os seus filhos. Como combater este flagelo?

DENÚNCIA! Seja como profissional (saúde, educação etc) seja como familiar, amigo, vizinho ou colega.

Segundo um estudo de Ricardo Pinto, a mulher vítima de violência doméstica só está a adiar o inevitável, uma vez que se não morrer pelas mãos do agressor, morre a longo prazo pelo desenvolvimento de doenças mortais, tal como se tem vindo a provar em vários estudos.

É obrigatório dar condições para a separação/afastamento em segurança! É obrigatório punir o abusador e não a vítima como tem acontecido.

Nunca vou perceber uma vítima a viver numa casa de abrigo enquanto o abusador continua a viver numa casa com as coisas dela lá dentro.

Existem países onde quem sai de casa é o abusador. Porquê que não acontece aqui?!

É obrigatório terminar com este flagelo!

A maioria das vítimas mortais já estavam identificadas e sinalizadas!

Algumas pessoas ao lerem isto pensam que estão longe deste flagelo.

Será que estamos assim tão longe, ou simplesmente nunca terminamos nenhuma relação durante a nossa vida? E as nossas filhas e filhos?

"Os gatos amam quem os trata bem, mas são independentes. Os cães lambem a mão do dono que lhes bate, os gatos arranham quem os agride porque são livres."

Daniel Sampaio

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