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Artigo de Opinião

Jornalista

18/01/2024 08:00

Ao longo do tempo a forma como se olha para a doença foi mudando. As doenças eram como visitantes indesejados que teimavam em bater à porta.

Naturalmente que a evolução da ciência e da medicina, foram também determinando a forma como encaramos as doenças que batem implacavelmente à porta, seja a nossa, a de um familiar, vizinho ou amigo.

Até o nome que se dava às mais variadas enfermidades foi mudando.

Na minha infância, lembro-me com clareza que certas doenças eram pronunciadas com receio. O cancro, por exemplo, era referido como um “bicho” cujo nome era evitado como, se pronuncia-lo pudesse invocar o mal. Era uma palavra que se sussurrava, carregando o peso do desconhecido e do medo de algo que não se entendia completamente. De vez em quando, lá se ouvia falar de “fulano tem um bicho” ou “fulano tal, morreu com um bicho”. Estas palavras, assustavam e de certa forma despertavam no nosso imaginário uma interrogação: afinal, o que seria esse “bicho”.

Falando de outras doenças, o sarampo era encarado como um desafio sério à saúde, principalmente para as crianças. A cura passava pelo isolamento da criança para evitar a propagação da doença. A hidratação era fundamental. Recordo-me da cor avermelhada que se evidenciava na pele. A paciência para a recuperação era uma virtude.

A papeira era outra das doenças que assustava.

A papeira, provocava inchaço nas glândulas salivares, gerando desconforto. A única diferença na altura, é que as crianças que a tinham usavam panos em volta do rosto amarrados no alto da cabeça. Não sei se era eficaz ou não, mas a verdade é que se via isso com alguma frequência. Dizia-se que cobrindo a garganta com um pano, poderíamos evitar que a papeira se espalhasse até aos testículos, uma crença peculiar que os pais seguiam com seriedade.

A varicela, conhecida como “bexigas loucas” era uma daquelas experiências comuns na infância. Começava por aparecer no corpo pintas vermelhas, originando muita comichão, causando desconforto e irritação na pele dos mais pequenos. Tratava-se de uma doença muito contagiosa onde o isolamento era recomendado. Um dos tratamentos passava por banhos de água tépida.

Não era propriamente uma doença, mas noutros tempos, era prática ter filhos em casa.

O parto em casa era uma prática comum. Eram poucos os que vinham para o Hospital - nessa altura para os Marmeleiros que era o único.

Os serviços de saúde praticamente não existiam nas zonas rurais. Nem serviços e praticamente, nem médicos nem enfermeiros. Era aqui que entravam as parteiras. Gente vulgar, mas que desenvolvia dotes especiais nesta área. Eram elas que eram chamadas para acudir nestas situações. Por norma as coisas até corriam bem.

A par de tudo isto havia outra situação que assustava os mais novos: levar vacinas. Nessa altura havia uma viatura do serviço regional de saúde da época que se deslocava até às escolas para aplicar as mais variadas vacinas. Nós éramos colocados em fila na estrada à espera da nossa vez. Recordo de forma particular de se falar na vacina de “riscos”. Avançávamos, olhando para os que iam saindo e alimentado o receio do que nos iria a acontecer quando chegasse à nossa vez. Depois das vacinas dali a uns dias surgia uma cicatriz no braço. Uma marca que ficava para a vida.

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