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Artigo de Opinião

AQUINTRODIA

2/01/2021 08:00

Os porta-bagagens abertos eram fonte de cheiros e sabores.

Escorriam os licores nos brindes de familiares e amigos.

Partilhavam-se as tradições, trazidas em cestos de vime.

As vozes clareavam-se na poncha regional ou de tangerina.

Os acordes de violas e acordeões atropelavam-se em euforia.

Ensaiavam-se uns passos de bailinho.

Faziam-se coros de romarias de pastores:

«Somos pastores, alegremo-nos…

Siga esta romaria, a caminho de Belém…

Nós viemos toda a noite, toda a noite em romaria…»

Espontaneamente, surgiam despiques com sabor a vinho seco.

Rodava-se pelas viaturas de caixa aberta, trocando votos e saudações.

«Da serra veio um pastor,

à minha porta bateu…»

Não, ninguém batia, porque

as portas estavam levantadas,

os corações escancarados,

os braços abertos a quem viesse…

Na Missa do Galo, cantou-se ao Menino;

falou-se da recusa do acolhimento,

da solução da manjedoura,

dos bafos de aquecimento

de animais pachorrentos e amigos.

Os Anjos anunciaram o Nascimento :

«Glória in excelsis Deo!

As campainhas soaram:

«Virgem do Parto, ó Maria,

Senhora da Conceição,

Dá-nos as Festas felizes,

a Paz e a Salvação!»

Molharam-se, de novo, as vozes,

A cantoria foi mais forte,

Os afetos mais solidários:

Era o Dia de Natal!

A maioria foi continuar a Festa em família!

O VELHO NOVO ANO

Descíamos à cidade em fim de tarde.

Os meus olhos de criança devoravam as luzes que trepavam pelos troncos e ramos, alegrando praças e ruas.

As montras ofereciam cor e brilho.

O circo era encantamento boquiaberto,

O poço da morte era um medo curioso, irrecusável.

O carrocel era viagem inevitável.

Por aqui e por ali, grupos de tocadores e bailadores cantavam a despedida do Velho.

Da barraca do sai sempre, trazíamos bugigangas, abraçadas como fortunas.

Na tasquinha, enfeitada de balões, comia-se a sandes de vinho e alhos, ou filete de espada.

No mar calmo, repousava o hidroavião, ave gigante em descanso.

Ao largo, os cruzeiros inundados de luz e orquestra, ouvida do cais, vestido a rigor.

«Não largues a mão do pai».

Às onze iniciávamos, cansados e felizes, o regresso.

No alto da encosta, a paragem, para sorver as gambiarras que subiam as ladeiras do anfiteatro, e aguardar o «fogo».

À meia noite em ponto, ecoavam as sirenes dos vapores ancorados, os sinos das igrejas saudavam o Novo Ano.

E logo subiam os foguetes de cana, semeando cor e festa.

As «lágrimas» desciam lentas, os «lagartos» ziguezagueavam,
as cores do fogo de artifício misturavam-se em ramos coloridos.

Uns choravam as saudades de quem partira ou vivia distante.

Nas mãos não havia passas.

O que passava eram contas do terço rezado em surdina.

Depois, com cheiro a pólvora, a subida prosseguia silenciosa, cada qual viajando consigo e com a sua vida.

Cada qual construindo planos e desejos de um Ano Feliz!

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