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Artigo de Opinião

Presidente do Conselho Regional da Ordem dos Advogados

20/09/2023 08:00

O que me salta à memória a propósito da ida para a escola, é a imagem dos dedos encardidos das cascas das nozes, e a formatura no pátio do Colégio Infante, donde, dois a dois, lado a lado, íamos a caminho da sala de aulas.

A partir daí são as memórias dos muitos momentos nas escolas por onde andei, dos amigos, dos professores, dos namoricos, e daquele sentimento misto, que todos os anos se repetia no princípio de outubro, a tristeza do fim das férias grandes e a alegria do reencontro com os colegas de turma (sim o aprender, era outro sentimento que ficava à parte).

Outra memória que guardo é do início da vida escolar dos meus filhos, vê-los com as enormes mochilas às costas, subindo as escadas de acesso às salas e, perceber que ali começava um novo ciclo da vida deles, mas também da nossa.

Lembro-me de ficar a contemplar os muitos alunos que ali chegavam, a alegria com que uns se despediam, o choro dos outros que não queriam ficar, mas em todos eles, via-os transportar aquela mochila onde carregavam, não só as suas esperanças, mas muito em especial as esperanças dos pais, em que, dali, saíssem bons estudantes e alguns doutores, engenheiros e outros profissionais.

E, esta ida para a escola, insistentemente trazia uma pergunta: o que é que queres ser quando fores grande?

Lembro-me da dificuldade que a maioria de nós tinha para responder (no íntimo todos tínhamos muitas respostas, era jogador de futebol, piloto de aviões, médico, advogado e até mesmo astronauta), e a resposta saía muda, quase sempre com aquele encolher de ombros que falava por si e da indecisão que reinava.

Na verdade, na maioria das vezes as respostas eram dadas pelos pais que se apressavam a dizer: "por mim ele vai ser o que quiser, não me meto nisso, mas vais ser polícia como o avô, não vais". Ou então quando o filho respondia a dizer: "quero ser professor", lá vinham os pais: "não quero intrometer-me, tu é que sabes, mas mais um professor na família, pensa bem".

E, nos casos daqueles que queriam ser jogadores de futebol, o pai dizia: olha até tens jeito, mais do que eu, e já tivemos bons jogadores da Madeira; e, a mãe lá intervinha: "estás tonto, sim só faltava mesmo criar um pequeno e ele não tirar um curso, para andar aos pontapés na bola, e andar gadelhudo e de brinquinho como aquele jogador do Benfica, que não sei o nome, deus me livre.

E à menina que respondeu: Quero ser jogadora de futebol como a Telma. O pai encolheu os ombros e acenou afirmativamente com a cabeça em sinal de aprovação enquanto a mãe disparou: O quê? Para depois o presidente da república te andar a dar beijos na boca como a outra.

Lá a pequena esclareceu: foi o presidente da federação mãe e, foi sem maldade.

Aí a mãe, retorquiu: ah, pois, também estava a achar estranho, mas de qualquer modo, nem pensar não vais para jogadora.

Ainda ontem fiz tal pergunta ao filho daquele meu cliente (do se fosse comigo, lembram-se?), e, para não variar, lá o pai apressou-se a dizer: já lhe disse, para ser advogado, que assim pode ajudar as pessoas quando estas precisam de exercer os seus direitos. Olhou-me e continuou - Sim o senhor doutor já sabe qual a minha opinião, não se pode prescindir de advogado, aquela história se fosse comigo, é para nos desgraçar. E agora olhando para o pequeno insistiu: vá diz, diz ao senhor doutor que queres ser advogado, não é isso que já falamos? Aí o miúdo (verdadeiro filho do pai) responde, nada disso pai, gostava mesmo era de ser como o avô. Ao que o pai retorquiu, também tu, polícia? E o miúdo a sorrir diz-lhe, não pai, o avô é reformado. Certo que a conversa acabou por ali, com aquela: sabe como é doutor esta canalha agora…

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