Este ano, a data está associada a uma grande polémica, por se passarem 50 anos do evento militar de novembro. Vai ser celebrado com pompa e circunstância na Assembleia da República (AR), passando-se a ideia de que o 25 de abril e o 25 de novembro foram acontecimentos com o mesmo nível de importância, tentando apagar-se o primeiro, que acabou com o regime ditatorial, e esforçando-se por dar maior relevância ao segundo, que repôs a normalidade democrática, após alguns meses de tentativas totalitárias para acabar com a democracia. Custa muito à direita portuguesa não ter lutado devidamente pela democracia. Prefere manipular a data para se apropriar de algo em que não foi protagonista, reescrevendo-a a seu favor e isolando-a do contexto que deu origem ao nosso regime democrático e às celebrações dos 50 anos do 25 de abril, que decorrem até 2026 porque é a 2 de abril que se celebram os 50 anos da Constituição da República.
Há, contudo, um outro 25 de novembro que apesar de ser assinalado todos os anos, só dá umas manchetes que provocam algum incómodo, mas que são esquecidas uns dias depois. Volta a ser lembrado no ano seguinte ou de cada vez que uma mulher é assassinada ou agredida. Refiro-me ao
Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres.
Curiosamente o motivo desta segunda data não gera grande empatia. As mulheres continuam a ser assassinadas, agredidas, torturadas, maioritariamente nas suas casas ou nas ruas. Muita gente, incluindo da justiça ou das forças de segurança, continua a olhar para estes casos com o filtro do preconceito, desculpabilizando os agressores e culpabilizando as mulheres do que lhes acontece.
Com a extrema-direita e a gestão dos algoritmos das redes sociais, cresce na Europa uma onda machista. Influencers e tradwives apoiantes do partido racista, xenófobo e misógino da AR têm discursos cada vez mais machistas, incentivando a violência contra as mulheres ou a sua perda de direitos, como por exemplo o do voto.
O crime de violência contra as mulheres está sempre associado a questões de poder. Os homens acham que as mulheres lhes pertencem. Sentem-se ameaçados quando elas os enfrentam e lutam pelos seus direitos. Acham que podem dispor dos seus corpos. Matam, agridem, violam, assediam, humilham, torturam. O número de agressões às mulheres e raparigas está a aumentar: Só este ano, até outubro, já foram registadas mais de 25.000.
Isto só muda quando também os homens se envolverem nesta luta. A sua indiferença é cúmplice do abuso. Se em 10 homens há um agressor e os outros 9 se calam, ajudam a perpetuar este estado de coisas. Num coletivo masculino há sempre quem fale desrespeitosamente sobre as mulheres em geral ou sobre amigas comuns; há sempre quem faça avanços indesejados ou comentários pouco próprios em público. Se se percebe que há sinais de agressor nos comportamentos de um amigo vosso, falem com ele. Envolvam-se. Acham que as mulheres importantes para vocês nunca experienciaram nada desta violência e insegurança? Falem com elas. Oiçam-nas e percebam o que as incomoda e as faz temer pela sua segurança. Não se riam. Ajudem a mudar esta situação. Não basta haver leis contra a violência sobre as mulheres. É preciso haver homens que se importem e que não tenham vergonha de enfrentar os seus colegas. Ajudem a quebrar este ciclo de violência!
Pelos direitos das mulheres, pela democracia, dia 25, vamos inundar o país de cravos vermelhos!