A XIV Convenção Nacional do Bloco de Esquerda decorre, este fim de semana, em Lisboa, reunindo delegados de todo o país para definir a linha política e eleger os órgãos nacionais para o próximo biénio. Da Madeira está presente uma delegação de 14 elementos, liderada pela coordenadora regional, Dina Letra, cuja intervenção foi marcada por duras críticas ao Governo madeirense e por um apelo à mobilização socialista e anticapitalista.
Na sua intervenção, Dina Letra começou por saudar os militantes da região autónoma, destacando o “esforço ininterrupto” num ciclo de sete atos eleitorais consecutivos. A coordenadora regional estendeu ainda palavras de reconhecimento à direção cessante e uma nota de solidariedade à líder bloquista, Mariana Mortágua, que sai da direção.
“Plantaste em nós a semente da esperança na vida boa”, afirmou, recordando a mensagem lançada há dois anos pela atual coordenadora nacional. “Queremos a vida boa: uma mensagem poderosa em tempos incertos”, sublinhou, defendendo que o Bloco continua a carregar “a força dessa semente”, entendida como um projeto de futuro assente em justiça social e alternativa política.
O núcleo central do discurso de Dina Letra incidiu sobre a governação PSD-CDS na Madeira, a quem acusou de governar para uma elite económica enquanto mantém uma máquina de propaganda que “vende uma ilha das maravilhas”.
“Não para o povo, não para quem trabalha, mas para os beneficiários dos vistos ‘gold’, para os especuladores imobiliários e para jogadores de golfe, o novo fetiche de Miguel Albuquerque”, afirmou, numa referência direta ao presidente do Governo Regional.
Segundo a dirigente bloquista, a narrativa oficial de crescimento económico e aumento do emprego contrasta com uma “realidade dura” vivida pela população. Dina Letra destacou a escalada do custo de vida, preços especulativos da habitação “impagáveis para a classe média madeirense”, a degradação dos serviços de saúde e o aumento dos pedidos ao Banco Alimentar.
“Só não crescem salários e pensões!”, acusou, denunciando igualmente políticas que, a seu ver, perpetuam pobreza e desigualdades, ao mesmo tempo que desperdiçam fundos comunitários em “projetos inúteis, festas e uma rede tóxica de amiguismo”.
Dina Letra reservou também parte da intervenção para denunciar a precariedade laboral e a exploração de quem sustenta o setor turístico, num contexto em que o turismo bate recordes. Considerou igualmente que o combate às alterações climáticas é “uma miragem”, criticando o que diz ser o “maior assalto de sempre” à floresta Laurissilva devido à pressão imobiliária e turística.
“Para quem trabalha, para as mulheres que cuidam da família e de todos, a produtividade tem sido sempre uma arma de discriminação”, afirmou, classificando o anteprojeto do novo pacote laboral como “um insulto”.
O discurso terminou com um apelo forte à militância e à unidade da esquerda, num momento que considera crítico para o país e para a Região Autónoma. “Desistir da luta seria desistir da liberdade e da democracia”, declarou. Reafirmou os valores republicanos e as conquistas de Abril — “paz, pão, habitação, saúde, educação para todas e todos” — insistindo na necessidade de um Bloco mobilizado.