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Artigo de Opinião

Investigador na área da Educação

25/07/2022 08:00

No entanto, os números demonstram, que esta mais-valia, não se encontra devidamente reconhecida no mundo laboral.

Na realidade, apesar de recentes flutuações, naquilo que têm sido as desistências no ensino superior, de acordo com os dados recentes da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, no ano letivo de 2020/2021, entre as licenciaturas, a percentagem dos que saíram do sistema durante o primeiro ano foi de 10,8%, quando no ano anterior tinha sido de 9,1%. Ainda, quase um em cada quatro estudantes (24,4%), que tinham ingressado num curso técnico superior profissional, já não se encontrava no sistema de ensino superior nacional um ano após ter iniciado o curso. No ano anterior, a percentagem era de 18,7%. Temos, pois, em Portugal, que cada vez mais jovens frequentam e concluem o ensino superior. Em 2020, cerca de 42% dos jovens adultos portugueses, com idades compreendidas entre os 25 e os 34 anos, tinham terminado com sucesso um curso superior, colocando Portugal acima da média europeia (41%). Não obstante, no escalão dos 35 aos 44 anos a percentagem de graduados é de 33%, na faixa etária dos 45 aos 54 anos de 24% e nas idades compreendidas entre os 55 e 64 anos de 17%.

Vendo esta perspetiva pelo lado laboral, no entanto, apesar de mais escolaridade dever garantir salários mais elevados, o diferencial tem vindo a diminuir -a propalada aproximação do salário mínimo nacional com os salários médios, no que diz respeito ao grupo etário dos jovens, é de longe o mais afetado. E não se vislumbram mudanças.

Aliando, ainda, esta dimensão num prisma socioeconómico, só na última década (de 2011 a 2019), o poder de compra dos portugueses com o ensino superior caiu mais de 10%. Mas, a queda é ainda superior no caso dos jovens recém-graduados. Durante este período, os salários líquidos dos jovens portugueses, deduzidos do efeito da inflação, baixaram 15% para os licenciados, 12% para os mestres e 22% para os doutorados. Os salários apenas subiram para os jovens com o ensino básico (5%) e com o ensino secundário (1%), realidade, a bem de ver, em grande parte impulsionada, claro, pelo aumento do salário mínimo nacional (V. Fundº. José Neves, julho22).

Para além dos salários baixos, que se praticam em Portugal, os jovens portugueses recém-graduados têm enorme dificuldade para conseguir encontrar emprego. No final 2021, 26% dos jovens recém-graduados não tinha emprego. Um aumento acentuado face a 2019 (perda de 27.500 empregos face ao final de 2019).

Muito recentemente, o Governo da República veio reconhecer o problema mesmo ao nível dos seus quadros (Cons. Ministros de 14 de julho). Por um lado, pretendendo valorizar os técnicos superiores, que face a todo o exposto têm vindo a assistir a uma erosão salarial -pelos motivos antes aduzidos; e, por outro, tentando captar, mesmo, os possuidores de grau de Doutor ou valorizando já aqueles que detenham este grau e que se encontrem na carreira. Esperemos que esta medida se repercuta no privado e permita alavancar as qualificações, não descurando o devido reconhecimento salarial.

Compreende-se, pois, o sentimento que se vai ouvindo de que o retorno do investimento dos jovens e das suas famílias na educação é cada vez menor no nosso país. Talvez, por isso, muitos jovens com formação superior decidem emigrar em busca de melhores condições profissionais.

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