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Artigo de Opinião

22/12/2025 07:30

Todos os anos, quando pretendo começar um texto sobre o Natal, pareço-me tomado por uma impotência mental.

Medo, até.

Algo me sussurra: “Alberto João, és mesmo estúpido!... Sendo tu crente, como é que a tua condição humana se atreve a pretender decifrar o Mistério do Natal ou, outras vezes, o Mistério da Ressurreição?!...”.

Encolho os ombros. É mais um desafio.

Adoro.

Viver o Natal, cantar o Natal, reforçar a Vida através do sentir o Natal, faz parte do produto que sou da Cultura Madeirense.

Não A renego. Amo-A. Quero continuar a contribuir para Ela, apesar do pouco que sou.

Na minha idade, esta Cultura arrasta-me para a Saudade. Dos tempos em que fazia a Lapinha com o meu Pai. Um quarto inteiro, cheio de móveis empilhados, onde depois de pintado o papel rijo que imitaria os rochedos magníficos e desafiantes da Ilha, esta camuflagem era presa nas esquinas artificiais assim criadas e esteticamente escolhidas.

Saudade de quando acreditava que o Menino Jesus era Quem me trazia os brinquedos e livros que, esfusiante, eu desembrulhava mesmo sobre o fogão da cozinha.

Haviam sido ali colocados numa operação do maior secretismo, em cada Noite de Natal.

Depois, quando ao mexer num armário descobri que não era o Menino Jesus, mas sim as Graças que o Menino Jesus concedia aos meus Pais, acho que foi aí que começou a “manha” que depois serviu para a Política. Aguentei ainda mais uns anos, fingindo que não sabia...

Como marcado fiquei por aquela primeira Noite de Natal já órfão de Pai. A minha Mãe esforçava-se para que a Noite de Natal continuasse primado da Vida. Mas foi-se abaixo completamente, não aguentou quando um dos presentes que eu abria, Ela culpou-se por não ter reparado que o comprara estragado.

Se calhar, foi tal impressão magoada, nessa Noite Santa, que me fez assumir jamais me deixar vencer por qualquer contrariedade da Vida.

Graças à Fé naquele Menino de Belém.

Fé racional porque Ele personaliza algo que EXISTE, que se concebe, o Bem Absoluto. Apesar de ser normal na natureza do Ser Humano, não nos permitir níveis físicos e de Conhecimento para representá-Lo e dissecá-Lo em plenitude.

Esta Fé no Menino da Noite de Natal, como tanto me ajudou na vida!...

Natais e mais Natais mantêm a Saudade de Todos os que partiram.

Mas a Saudade é extensão do tempo. Adubou a Alegria pelos Filhos e pelos Netos que foram chegando. Fizeram as Alegrias de antes, serem as Alegrias de hoje.

Acreditar tem um composto de Alegria. A de sentir possuir algo que nos convence.

De racionalmente poder perceber porque é que um Ser Humano, como o Menino Jesus, pode ter uma missão de vida e, ao mesmo tempo, estar deificado para trazer as Comunidades Humanas à fusão com o Bem Absoluto.

Como também perceber que este Menino nas palhinhas da Gruta de Belém, a sorrir irresistivelmente à Humanidade, destina-se a ser crucificado para demonstrar que a redenção necessária de uma Mulher ou de um Homem passa por sacrifícios pessoais, passa pelo próprio destino da morte.

Não estamos ante um projecto de sofrer por sofrer, como entenderam visões obscurantistas da Religião.

A missão de vida do Menino Jesus explica que só se atinge o Bem Absoluto através do esforço persistente na Liberdade que escolheu, na Justiça e no Trabalho com o Próximo. No que dignifica a Pessoa Humana.

As injustiças e catástrofes da História não podiam ser evitadas, só para um Algo Supremo ser considerado Bem Absoluto.

É o contrário.

Se Algo Supremo determinasse tudo previamente, tirava-nos a Liberdade.

E para o Algo ser Deus, ser PERFEITO, tem de nos manter a Liberdade. Permitir que tenhamos de luta por Esta. Não nos fazer marionetas de um Desígnio Superior.

Assim, o Menino Jesus também é Liberdade.

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