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Artigo de Opinião

Investigador na área da Educação

9/01/2023 08:00

Não obstante, o mérito das afirmações e o desejo que todos partilhamos, a necessidade de objetivar e tornar prática esta convicção, que a todos é comum, impõe ter em atenção a realidade.

Ora, vendo esta perspetiva pelo lado laboral e cruzando esta dimensão com aquilo que nos diz que estamos perante a geração mais preparada. A verdade é que, apesar de mais escolaridade dever garantir salários mais elevados, o diferencial tem vindo a diminuir -e a propalada aproximação do salário mínimo nacional com os salários médios, no que diz respeito ao grupo etário dos jovens, é de longe o mais afetado. Mais, para além dos salários baixos, que se praticam em Portugal, os jovens portugueses recém-graduados têm enorme dificuldade para conseguir encontrar emprego. No final 2021, 26% dos jovens recém-graduados não tinha emprego. Um aumento acentuado face a 2019. De resto, Portugal começa a evidenciar uma situação particularmente grave, no contexto europeu, de precarização do trabalho. Enquanto na média da UE o número de contratos a prazo nos jovens é de 49 %, em Portugal é de 62%. Mais, entre nós, os trabalhadores que são precários, porque não conseguem contratos sem termo estimam-se nos 82 %, na média da UE é de 53 %.

Regressando à comunicação do primeiro-ministro urge inverter, pois, a tendência de deixar "fugir" os mais capazes e habilitados. No entanto, como fazê-lo, quando se constata que durante o período 2011 a 2019, os salários líquidos dos jovens portugueses, deduzidos do efeito da inflação, baixaram 15% para os licenciados, 12% para os mestres e 22% para os doutorados. Os salários apenas subiram para os jovens com o ensino básico (5%) e com o ensino secundário (1%), realidade em grande medida impulsionada pelo aumento do salário mínimo nacional (Fundação José Neves, julho de 2022). Mais, com os valores já previstos para a inflação deste ano é de esperar o acentuar deste cenário, que, aliás, globalmente, tudo leva a crer possa conduzir a uma perca real dos salários de forma a colocá-los ao nível daquilo que representavam em termos de poder de compra anteriores a 2014.

Cumpre, portanto, encontrar mecanismos que levem à criação de condições de garantir, claro, a atratibilidade e fixação dos nossos melhores. Mas, aqui, efetivamente, políticas públicas (além de convicções), que coloquem a melhoria da qualificação como desígnio, para todos, incluindo os empregadores -agora até que se abrem novos compromissos europeus, onde as verbas do anunciado PRR podem e devem ser esgotadas para este fim. Razão determinante no esforço de aproximar Portugal da UE e, sobretudo, manter a coesão dos portugueses em lugar de deixar partir os nossos ativos.

Já o afirmámos e é nossa posição de princípio ser fundamental permitir a cada trabalhador individualmente, ou coletivamente, independentemente do tipo de contrato de trabalho que possua - para além de todos aqueles que não estão atualmente empregados, acederem à educação e melhorarem as perspetivas de emprego reduzindo entraves, melhorando recursos e criando mesmo estímulos remuneratórios, mediante, por exemplo, perspetivas de progressão na carreira, valorização da saúde mental e do bem-estar, trabalho remoto, horários flexíveis, prémios de desempenho, incentivo à (re)qualificação, seguro de saúde…

Mais, o encargo financeiro da formação deve ser justamente partilhado e financiado. A formação no posto de trabalho tem um papel cada vez mais importante e é sobretudo responsabilidade dos empregadores investirem na formação do seu pessoal (dentro e fora da empresa!). Empregadores, que precisam continuar a investir e em ter ligações mais fortes com as universidades e politécnicos.

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