Não sei se estão a par. Mas as leis não têm obrigatoriamente que ser más, ok? O facto de termos regras bases, não nos obriga ou impede de fazer o que quer que seja. O facto da velocidade máxima permitida ser de 90 km/h, apenas me indica que acima disso eu incorro numa infração. Se eu quiser ultrapassar o limite, a decisão é minha. As consequências disso é que depois podem não ser opcionais.
Multa? Perda de pontos? Inibição de conduzir? “Azar” o meu.
Se beber até cair, me meter no carro no lugar ao lado do pendura e tiver a infelicidade de soprar e passar de 0,5 g/l? “Desgraça” a minha. Se me “esquecer” de pagar as contas até à data limite? “Infortúnio” o meu. Ou seja, as leis não são boas nem más. Não têm que o ser. Apenas dependem de como olhamos para elas e o que pensamos fazer com as mesmas.
Por exemplo, veja-se a tinta que tem corrido à conta da proposta da nova lei laboral. Anda tudo em alvoroço. Na boca de uns, procura corresponder aos novos tempos e premiar a competitividade. Na de outros, não passa da exposição ao risco por parte dos trabalhadores.
De um lado, os malditos patrões que só querem explorar os funcionários. Do outro, os funcionários que só querem explorar o patrão. No meio, eu! Que conheço patrões justos e outros que não prestam para nada e funcionários dedicados e outros que não valem um cêntimo do que ganham.
Sim, há patrões que pagam um fundo e pedem o mundo. Que querem que tenham horas de entrada, mas não tenham de saída. Que façam o deles e o dos outros. Que trabalhem domingos e feriados a preço de saldos. Que não lhes reconheça valor. Mas também os há que pagam acima da média e oferecem boas condições de trabalho.
Porém, do outro lado, há também trabalhadores esforçados e outros que, mesmo tendo um patrão exemplar, não apareçam ao trabalho porque sim. Que metam baixa porque já queimaram as férias todas. Que se recusem a cumprir as suas funções. Que não sejam minimamente colaborantes. Que se encostem à sombra da “efetividade”. Que se batam para levar para casa uma indemnização de mãos cheias de anos de casa.
Na verdade, há de tudo. E eu torço para que cada um, mais cedo ou mais tarde, acabe por encontrar o patrão/funcionário que merece.
Isto para dizer que não vejo razão para tanto alarido com a greve geral do passado dia 11! Calma. Escusam de ficar já ofendidos. Também eu tenho feito greve da escrita e isso agradará a uns e desagradará a outros... Pronto. O facto de eu não perceber o motivo não quer dizer que não aceite que a defendam ou a ponham em prática. Na pior das hipóteses isso faz apenas de vocês o tipo de pessoa que eu considero que olha para as leis como obstáculos e não como limites. Hummmm. E isso, na verdade, já diz muito sobre a vossa pessoa.
É que um tipo que luta pela obstaculização ao despedimento é um tipo que não está seguro de que é um bom empregado. Que porventura sabe que o que acrescenta à empresa é pouco ou nada. Caso contrário, porque carga de água é que o patrão o quereria despedir?! Para abrir uma vaga para um peso morto, não?! Então era isso...
Ou uma tipa que luta pelo direito à redução do horário de trabalho por amamentação além dos 2 anos, ao invés dos 69 atuais (Sócrates tem 68 feitos em setembro e continua agarrado à teta da D. Maria Adelaide) é alguém determinado a enfrentar o patrão de peito feito.
Enfim. À espera de consenso, nem o pai morre nem a gente janta. É que esta gente nem no impacto da greve se entende. O Governo diz que foi “inexpressivo”. Para os sindicatos foi “histórico”. Por cá, Miguel Albuquerque afirmava não se terem verificado “grandes disfuncionalidades” nos serviços. Já Alexandre Fernandes regozijava-se: “os trabalhadores aceitaram o nosso repto e de certa maneira isso alegra-nos”. Continuando, dizia ter sido “umas das melhores greves gerais dos últimos anos”. Inchado, reforçou: “nós temos o cartão do cidadão encerrado”. Uau. Que lindo. Bonito serviço. Como se não bastasse: “o entreposto do Caniçal também muito congestionado”. Sim senhor. Que proeza. Por fim: “os centros de saúde estão nos serviços mínimos”. Bravo. Só faltou dizer que o aeroporto também fechou por causa do vento soprado pelas bandeiras agitadas à porta da ALRAM. Uma paralisação e pêras.
O pior é que há sempre bons que se perdem no meio destas lutas. O meu mais novo, por exemplo, ouviu que uma escola (que não a dele) ou outra fechou. Mostrou-se logo a favor da greve. Perguntou-me, reconhecendo-me como a sua entidade patronal, se também podia aderir. “Claro que sim. É para já, meu menino. Não quero que te falte nada”. Começou logo pela de fome. Já nem lanche levou nesse dia.
PS, por falar em fome, dizem que não a há que não dê em fartura. E se não é, assim parece... Então não é que me disseram que este ano as barraquinhas estão diferentes?! Não sei. Ainda não lá fui. Mas consta que o “concurso”, desta feita, deixou de fora um “poncheiro” habitué e incluiu outro que todos os anos chorava que aquilo só atrapalhava o negócio dos “residentes” da placa. Não é verdade, pois não? Devem ser só as más-línguas, claro. O costume. Esqueçam... Não está mais aqui quem falou.
Pedro Nunes escreve ao domingo, todas as semanas.