MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Engenheiro

10/11/2022 08:00

Sei que a grande parte da população que servimos é cumpridora e que respeita as regras da vida em comunidade. Sei também que a grande maioria reconhece o valoroso e importante trabalho que estes homens e mulheres levam a cabo todos os dias. Os contentores são pesados e não se descarregam sozinhos, é o indiferenciado, é o vidrão, é o papelão e o embalão, cada um com a sua cor e também com a sua dor. Para todos ficarmos mais esclarecidos, no ano passado, na recolha de resíduos urbanos, as viaturas da ARM percorreram ao todo 530.841 km, o que dá uma circulação média diária de quase 2.000 km. Em termos das quantidades de resíduos recolhidos nos nossos pontos de recolha, foram ao todo 30.600 toneladas, o que equivale a uma média de mais de 110 toneladas por cada dia de trabalho. O caro leitor deve estar a pensar: tanto lixo? Pois é, é muito lixo. Pronto, resíduos, para ser mais correcto.

Atenção, o problema que me aflige não é a quantidade de resíduos a recolher, para isso estamos preparados e com a diligência e o esforço de todas as equipas, sei que conseguimos resolver, e sempre com a humildade e a consciência que podemos melhorar o nosso serviço e aprender com os nossos erros. Mas o que realmente me preocupa, é o desrespeito completo e acintoso de uns poucos que teimam em não cumprir as regras mais básicas e elementares de civismo e de cidadania. Não depositam os sacos no interior dos contentores (nos dias em que usam sacos), uns por pura preguiça, outros porque eventualmente serão demasiado importantes para abrir a tampa… Não desmontam as caixas de cartão, uns por desleixo, outros, porque não encontraram as instruções de desmontagem, ou se calhar, porque são também VIP (Very Important Pig)… Não depositam o vidro nos vidrões, mas enfiam no contentor verde cântaros de barro… se levassem com o cântaro nas "arcas", se calhar aprendiam… Não depositam as embalagens correctas no embalão, uns por ignorância, outros porque ainda não aprenderam a diferença entre uma lata de salchichas e uma lata de tinta, ainda por cima cheia, é preciso ter muita lata, ou então, estarem-se completamente nas tintas.

Mas como se este cenário não fosse já suficientemente deplorável, estes nossos abnegados cantoneiros ainda têm de enfrentar diariamente em cada ponto de recolha uma mini ExpoMadeira, repleta de coisas velhas, usadas e abandonadas. E lá estão em exposição os colchões, as camas, os sofás, os sofás-camas, os eletrodomésticos, mobílias de sala completas, só fica a faltar mesmo o homem das panelas... Não estou a brincar, é toda uma panóplia de monstros de todas as espécies, marcas e feitios, zelosamente depositados por uns quantos boçais inconsequentes. Que raio, a ARM disponibiliza um serviço gratuito de recolha de monstros e a chamada para o respectivo agendamento é gratuita, querem melhor? Para quê chatear o primo que tem o "meio-carro" para transportar o colchão ou o frigorífico pela calada da noite, deixem o homem em paz… e de caminho, respeitem o trabalho dos nossos.

Há uns dias, numa conversa ocasional com o Sr. Aldónio Paulo, um dos nossos cantoneiros da Quinta Grande, dizia-lhe eu acerca desta situação, que tínhamos de aplicar coimas aos prevaricadores, já que não íamos lá com a cenoura, íamos com o chicote. Ele, em resposta afirmativa e de forma pertinente dizia que tinha de ser uma coima pesada para servir de exemplo, nas suas palavras: um "enxerto". Nada mais acertado, se não formos lá com um "enxerto" de euros, que seja com um valente "enxerto" de porrada…

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