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Artigo de Opinião

29/03/2022 08:00

A presença figurada de um demónio dentro de uma pessoa, é algo que é debatido por esse mundo fora, a nível teológico, filosófico, a beleza é que depende sempre do movimento de quem está a abordar o assunto, se falamos mesmo de demónio ou transpormos a palavra para o sentido humano, desmitificando, perdoem-me a redundância, o mito de Sísifo, como Camus.

Os demónios não são bichos como Hidra, Quimera ou Cérbero, eles estão normalmente dormentes alimentados pela esperança que o dia passe e que amanhã o dia seja, na pior das hipóteses, igual ao último que passou e que eventualmente uma pessoa consiga perceber o que está aqui a fazer, ou, simplesmente, como é que pode sobreviver até ao dia seguinte. Esses demónios dormentes que sempre se alimentaram através dos nossos planos futuros estiveram connosco desde que nascemos.

Quando começamos a crescer olhamos ao nosso redor e vemos os nossos pais, pensando que eles descobriram o segredo para matar esses demónios e ficamos com a esperança de quando chegarmos aquele ponto na nossa vida já teremos descodificado o mito. Encontramo-nos na nossa família essa esperança de um dia, quando lá chegarmos, termos percebido como é que eles conseguiram cortar a fonte de alimentação dessas bestas. E com essa esperança vamos alimentado os demónios.

O que não nos ensinam, talvez para nos proteger, é que mesmo quando chegarmos à idade deles (idade é de facto um coisa estranha, pensamos que com ela vem a sabedoria, a calma e a estabilidade, só para chegarmos à conclusão, que como os demónios), nada poderia estar mais longe da verdade e temos de caminhar sempre em busca de alcançar essa sabedoria e matar esses demónios.

A coisa que nos move para tentar escapar ao trabalho de Sísifo é dormir. Adormecemos e é nessa altura em que fugimos dos demónios. Respiramos mais lentamente, no escuro, sem pensar em como acordar, e no que faremos depois desse violento despertar. Esperamos que nos cantem uma canção para um despertar mais suave, mas, infelizmente, continuamos a acordar da mesma forma, a sobreviver na ignorância de como nos livrar dos demónios, de pensar que somos os únicos que ainda não desmistificamos e que a estabilidade está cada vez mais longe.

No fim acabamos por fugir, lentamente, da estabilidade que tínhamos quando pensávamos que quando íamos ter a idade dos nossos pais teríamos tudo resolvido e caminhamos para a beira do precipício, sempre a alimentar os demónios que nos acompanham desde do primeiro momento.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
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