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Artigo de Opinião

Economista

1/01/2021 09:00

Para contrariar essa nebulosa pandémica, nos últimos dias de 2021 os jornais estiveram repletos de fotografias e análises com retrospetivas sobre os passados 12 meses. Ajudam a sintetizar o que significou o passado ano para a nossa comunidade, o nosso país, o nosso mundo.

Mas as doze badaladas da passada meia-noite fazem com que o nosso enfoque se dirija necessariamente para o novo ano. Certamente não será um mar de rosas. Lembrar-nos-emos que iniciámos 2021 a pensar que nada poderia ser mais estranho que o ano anterior devido ao arranque da pandemia, mas fomos logo acordados no dia 6 de janeiro com as imagens chocantes da Invasão do Capitólio em Washington. Pois, as coisas podem sempre ficar ainda mais estranhas e absurdas.

Também pensávamos que a vacinação seria a panaceia para todos os nossos males. Protege-nos contra os efeitos mais lesivos do vírus, mas não anula as restrições às nossas vidas devido à propagação de variante sobre variante, de novos desafios em cima de desafios superados.

Entramos assim em 2022 sobriamente refrescados pela realidade, mas tal não deve entorpecer a nossa esperança.

É um ano que começa logo com um exercício democrático fundamental para o nosso país: as eleições legislativas nacionais. Independentemente da nossa opinião sobre os motivos que levaram à dissolução do parlamento, eleições livres são sempre um sinal de vivacidade do sistema democrático. Não são as primeiras eleições em tempos pandémicos. Os atos eleitorais realizados durante os passados dois anos demonstram que os motivos da abstenção são mais profundos que a circunstância pontual do covid-19. Simplesmente exige o dobro da originalidade para as campanhas eleitorais conseguirem transmitir as suas mensagens ao eleitorado.

Da Europa podemos ver muitos riscos elevados no horizonte: desde a ofensiva militar russa contra a Ucrânia até à intransigência populista polaca contra as instituições comunitárias (e contra os nossos valores europeus partilhados).

Mas não estamos perante nenhum cenário apocalíptico. Bem pelo contrário. Os efeitos socioeconómicos da pandemia deixaram a nu a esterilidade do finca-pé sobre as regras orçamentais da zona euro. Desde o norte ao sul da Europa, cresce o reconhecimento dos efeitos negativos do estrangulamento da recuperação económica, e que a única solução para concretizar uma verdadeira revolução digital e verde nas nossas economias é através do investimento público. É por isso que o Presidente francês convocou uma cimeira em março de 2022 especificamente sobre o modelo económico europeu pós-pandemia, com novas prioridades políticas e económicas: mais investimento público, o salário mínimo europeu, a promoção de campeões europeus tecnológicos e uma política fiscal mais justa.

Neste mundo tão interligado e globalizado uma questão é certa: o individualismo - seja pessoal, seja de uma nação só - é razão para falhar automaticamente na evolução. Ao contrário, a cooperação - seja na vizinhança, seja na integração europeia - é o único mecanismo que teremos para sobreviver e prosperar. Vemos isso na matéria de saúde pública onde a proteção individual conduz à proteção coletiva, mas também em todas as áreas de integração europeia, em que a política de consenso entre todos os interlocutores orienta a formação de uma solução coletiva melhor.

São estas as alavancas positivas para entrarmos neste novo ano de 2022 com realismo, mas confiantes na resiliência das nossas sociedades democráticas liberais em superar conjuntamente as tempestades mais complexas que nos assolam.

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