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Artigo de Opinião

Jornalista

7/07/2022 08:00

Um peixe de água doce de corpo alongado e de pele viscosa que aparecem sobretudo nas nossas ribeiras.

Quando era criança e na minha adolescência cheguei muitas vezes a acompanhar os mais crescidos na apanha de "iroses". Eles aparecem nas ribeiras, nos córregos ou até mesmo nas levadas com água permanente. São compridos, de cor escura, esguios e muito, muito mesmo, escorregadios.

Eram difíceis de apanhar à mão.

Antes dessas pescarias era necessário preparar alguns instrumentos. Havia uns que com uma foice ou uma "pedoa", já se desenrascavam. Mas outros de forma artesanal construíam um equipamento específico. Era mais sofisticado. Chamavam-lhe fisga. Não era mais do que um pedaço de madeira em forma de ripa que levava uns pregos na ponta. Quatro ou cinco pregos eram suficientes. Ficava com um aspeto de um garfo gigante.

Munidos de todo esse arsenal de pesca la íamos nós até à ribeira mais próxima.

Chegados aí havia que meter mãos à obra. Não era só chegar e começar a pescar. Esta era uma pesca muito diferente. Diria mesmo única. Exigia muita paciência e determinação para apanhá-los devido aos seus movimentos serpentantes e à pele escorregadia. Para capturá-los, era necessário secar uma parte do curso de água. Era uma operação que levava algum tempo. Era necessário escolher o melhor sítio para que se pudesse fazer isso. Implicava muito trabalho. Tínhamos de cavar nas margens da ribeira para tirar pedaços grandes de terra (torrões) que depois eram colocados no leito para desviar a trajetória da água.

Depois dessa operação concretizada começávamos a virar pedras. Era aí que começavam a aparecer os "irozes". Escolhíamos sempre os maiores. E uns com as tais fisgas ou com as foices ou "pedoas" iam apanhando e jogando para terra seca junto.

Também se tentava agarrar à mão, colocando um bocado de areia na palma da mão, por forma a segurá-los bem devido à pele escorregadia, e num gesto único atirá-los para terra.

Fazíamos a pescaria ao longo do troço da ribeira que secávamos.

Por vezes esta operação era produtiva.

Depois de concluída a pesca, voltávamos atrás para voltar a colocar a água a correr no seu curso normal.

Era uma atividade interessante que deixa sempre boas recordações. Tinha também uma componente lúdica se bem que não lhe chamássemos de pesca desportiva.

Depois de alguns quilos de peixe era tempo de regressar a casa e preparar esta iguaria.

Os "irozes" não eram muito fáceis de amanhar. Tínhamos de lhe retirar a pele e as entranhas.

A pele era o mais difícil. Havia que os colocasse presos com um prego, para depois com a ajuda duma folha baraço de abóbora ser mais fácil de arrancar a pele.

Depois de prontos seguia-se a preparação do petisco. Normalmente fazia-se um vinho e alhos e depois fritava-se.

A pesca dos "irozes" acabava sempre com um convívio entre malta amiga.

Era uma iguaria única é muito apreciado. Ainda tive oportunidade de acompanhar todo este "ritual "algumas vezes.

Outros tempos.

Não sei se nos dias de hoje ainda há quem apanhe "iroses". Também não sei se ainda existem muitos tendo em conta que as ribeiras, estarão agora porventura mais expostas a outro tipo de poluição.

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