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Artigo de Opinião

15/06/2023 08:00

Mas os Clubes (e Sad’s) são essencialmente a bola que entra ou não, e foi pela vertente desportiva que os sócios do Marítimo, sequiosos de vibrar com os sobressaltos da luta europeia, em vez das águas caldosas do fundo da tabela, decidiram ser tempo de regressar a uma liderança que lembrava a sucesso, suportada, na sua fase inicial pela direção desportiva de maritimistas de gema, ex-atletas do clube, e procurando restabelecer um elo maculado com a massa adepta. Aqueles que estão sempre lá, a apoiar o glorioso das Ilhas incondicionalmente. E, se neste capítulo, foi plenamente conseguida a mobilização de todos os que têm um coração verde-rubro, vide os sucessivos "caldeirões cheios" e o apoio expressivo em terras peninsulares, já no capítulo desportivo seria difícil um panorama mais negro.

E, devemos admitir, alguma "oposição" interna, por deferência, tacticismo ou falta de força, remeteu-se rapidamente ao silêncio, concedendo a necessária tranquilidade que não foi aproveitada por quem os adeptos esperavam tanto.

Não acho, contudo, que seja tempo para "facas-longas", ajustes de contas, ou movimentos de regresso de figuras providenciais. Também me parece desajustada, porém, a narrativa da pesada herança. A herança era do conhecimento geral e ninguém foi obrigado a avançar. Embora seja um baluarte de democracia, o Marítimo não precisa de litigâncias, "blame games". Precisa de soluções, de um projeto, um rumo. É isso que terá de resultar da reflexão pré e pós AG. Terá de ser uma reflexão necessariamente célere, ainda que responsável.

Preocupa-me também o regresso de uma certa narrativa de dois eixos. Por um lado, ecos de apelo ao reforço das verbas públicas para o futebol profissional, como se tal fosse panaceia para alguma coisa. Por outro a constituição de um único clube regional (imagino que a lógica implicasse "proibir", forçar à desistência, todos os outros que por mérito desportivo subissem às competições profissionais, ou, simplesmente, não lhes dar subvenção?) que, supõe-se, atropelaria a lei quadro que define a atribuição de comparticipações ao desporto da RAM. Porque, segundo esta, qualquer clube, seja este "único", feito numa panela de pressão, pré-existente, Histórico (escolher opção) têm direito ao que está estipulado no respetivo regulamento. A não ser que se fizesse uma mudança criativa do disposto, concentrando um valor equivalente a 3, 4 ou 5 clubes. Uma paródia que os madeirenses não compreenderiam e que, estou certo, está longe das prioridades do governo regional. Até porque, sejamos claro. Num mundo complexo como é hoje o do futebol profissional, onde os valores em jogo são "loucos", aquilo que o Governo pudesse reforçar de verba, pouca ou nenhuma diferença faria ao clube recetor, se gerido de forma profissional e contemporânea, mas faria muita falta para o investimento público, ou reforço dos apoios sociais.

O que espanta é que a esmagadora maioria do orçamento anual do Marítimo provenha dos 7 milhões de euros do contrato televisivo e do milhão e 750 mil dos cofres públicos. Isso significa que, entre cotizações, bilhética e publicidade, tudo se resume a poucas (duas?) centenas de milhar de euros. É imperioso cumprir a visão vendida aos sócios que implicava a atração de investidores, e uma criteriosa gestão daquilo que é o grande ativo, já não apenas desportivo, mas financeiro, chamado plantel. A formação, mas também a aquisição de jogadores de elevado potencial, para valorização interna, retirando sucesso desportivo e mais valias na futura revenda. Isso faz-se com relações privilegiadas com agentes desportivos-chave, mas também aproveitando os chamados "latecomers" da formação dos 3 grandes, que afunila a (quase) totalidade dos futuros jogadores de seleção. Aqueles jogadores que desenvolvem o potencial depois dos outros, mas que atingem um teto exibicional considerável. É o que faz o Braga há muito tempo, tendo um meio campo e ataque (quase) exclusivamente de ex-jogadores do Benfica e Sporting. E ainda pode revende-los a estes clubes com lucro fabuloso (Ricardo Horta?). Mas foi também o que o Marítimo já fez com o Danilo, que não tinha sido aproveitado pela formação do Benfica. Ou até o que o Sporting está a fazer, indo buscar jogadores que saíram "demasiado cedo", e que precisam de se relançar (Trincão ou Pedro Neto). O Futebol, como disse um dia Gaspar Ramos "não é uma ciência oculta". Todos conhecem as fórmulas. Apliquem-nas e devolvam o Marítimo ao lugar que merece.

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