Há 50 anos foi arriada pela vez derradeira a bandeira portuguesa dos mastros de Angola, enquanto o poeta, médico e político Agostinho Neto, proclamava a independência, concedida pelo famigerado Acordo de Alvor.
João Lourenço, presidente da República de Angola, a sexta maior nação africana, disse há alguns dias a esta parte, em Luanda, que os 50 anos de independência representam um marco histórico de soberania, liberdade e autodeterminação para o povo angolano.
João Lourenço e seu o contrassenso, em afirmar, publicamente, em tom bastante alentado e com toda a intrepidez e não menos arrogância, que Angola fez mais em 50 anos do que o regime colonial em 500 anos e simultaneamente reconhecendo que o país ainda não atingiu o patamar sonhado pelos angolanos, sublinhando que, uma pátria constrói-se todos os dias.
Mas, em abono da verdade, a asserção do Senhor Presidente, não condiz com a veracidade dos factos da nossa história comum e fiquei com a perceção que o discurso se destinava a alguns apedeutas.
Essa asserção, abundantemente questionável, posso afirmar sem pejo, que após a Dipanda, fez com certeza, muito mais no sentido de elevar a passagem dos pobres a miseráveis promovendo a fome, perpetuou a indigência e esculpiu em obra de arte, a corrupção.
Este discurso não é atípico e evidencia insegurança e está falho de responsabilidade atendendo o contexto em que foi pronunciado.
Para avivar a memória convém lembrar que filhos insignes de África como Amílcar Cabral, Agostinho Neto, Marcelino dos Santos, Viriato da Cruz, Mário Pinto de Andrade e muitos outros se formaram em Lisboa nos 40, nas universidades do colonizador.
O legado português, complexo, é certo, tem reflexão especial na língua portuguesa que permanece como língua oficial do seu país, mas também na cultura, na religião e na culinária.
O Senhor Presidente olvidou que ao falar ou referir-se à “Nação Angolana”, só faz sentido, a partir da ação colonial, a qual formou essa parcela nos padrões europeus.
Era bom recordar Agostinho Neto ao se referir ao acabamento de cinco séculos de domínio colonial português que se iniciava uma nova era de euforia e incertezas.
Nada mais acertado.
Para a maioria do povo angolano a tão almejada Dipanda diluiu-se, a euforia cessou e a incerteza transformou-se na certeza do desespero, da fome e da penúria.
A sua eleição para presidir aos destinos de Angola, trouxe esperança para a tão ansiada mudança, mas, ficou muito aquém e ao invés de concretizar a mudança, o descontentamento avolumou-se enormemente e a esperança de mudança desvaneceu remetendo-se para uma escatologia aterrorizante em que os angolanos que vivem ou melhor sobrevivem, em condições desapiedadas, fruto de uma governação ausente, despida de zelo, seriedade e humanismo, que corrompe desastrosamente as instituições e configura o enriquecimento ilícito da elite do partido governamental em detrimento dos angolanos mais carenciados e aos mais de 600.000 empurrados para a Diáspora dos quais, mais de 94.000 vivem e trabalham no país do ex-colonizador.
Sim, com tudo isto fez mais do que o colonizador em 500 anos. Não restam dúvidas.
Por tudo o que falta concretizar, que não foi cumprido após a incoação da democracia e da Dipanda nessa imensidão chamada Angola, sendo assim continuará a existir uma Nação sem Estado e um Estado sem Nação porque o essencial para uma vida melhor para os angolanos está por realizar, a avaliar pelas manifestações violentas, atos de vandalismo, pilhagens e pelo sacrifício dos 30 angolanos mortos e dos 277 feridos em consequência do uso ilegal da força.