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Artigo de Opinião

Consultor

7/05/2022 08:00

Tudo isto inspirado em David Graeber, o polémico professor de Antropologia da London School of Economics, conhecido pelo seu ativismo anarquista, que decidiu escrever um ensaio explosivo para a revista radical Strike! intitulado "Sobre o fenómeno dos trabalhos de merda". Este tipo de trabalho, diz o autor, é uma forma de emprego remunerado que é tão completamente inútil, desnecessário ou pernicioso que nem o próprio trabalhador consegue justificar a sua existência.

John Maynard Keynes já previa em 1930 uma semana de trabalho de 15h para o final do Séc. XX, com base nos avanços tecnológicos que iriam ocorrer. Praticamente um século depois, isso simplesmente não aconteceu. Em detrimento dessa redução drástica das horas de trabalho libertando a população para dedicar-se aos seus projetos, ideais e prazeres pessoais, observamos uma subida vertiginosa de empregos, sobretudo do setor administrativo. Surgem indústrias totalmente novas entre outras que lhes fornecem apoio administrativo, técnico e de segurança, bem como todas as restantes indústrias auxiliares que só existem porque toda a gente passa demasiado tempo a trabalhar nas outras. É precisamente a estes trabalhos que o autor se refere e que segundo uma lógica capitalista não deveriam existir, uma vez que a última coisa que uma empresa à procura do lucro quer é estourar dinheiro em trabalhadores de quem realmente não necessita. Ironicamente, quando estas levam a cabo reduções implacáveis, os cortes recaem invariavelmente na classe de trabalhadores que estão efetivamente a produzir, a transportar ou a vender algo, ao passo que o número de burocratas parece aumentar. Estes, apesar de cumprirem oficialmente semanas de 40 a 50h, trabalham na prática as 15h previstas por Keynes, sendo as restantes a frequentar seminários, a atualizar os perfis das redes sociais ou a visualizar séries numa qualquer plataforma de streaming.

Obviamente, a reposta a esta questão não é de ordem económica, mas antes moral e política. A classe dominante descobriu que uma população feliz, produtiva e com tempo livre constitui um perigo mortal. Então, obriga-nos a passar mais horas do que o necessário nos nossos trabalhos, a desempenhar tarefas de utilidade duvidosa para a sociedade, se não mesmo a inventar distrações para nos manter ocupados. Consequentemente, os trabalhadores produtivos são implacavelmente explorados enquanto os demais dividem-se entre um estrato apavorado de desempregados negligenciados e um outro mais vasto de gente que, no fundo, é paga para não fazer nada, em cargos criados para as levar a identificarem-se com a classe dominante (diretores, gestores, administradores, etc.), promovendo um ressentimento latente contra todos aqueles cujo trabalho possui incontestável valor social. É a única explicação para, apesar de todas as potencialidades tecnológicas, ainda não estarmos a trabalhar 3 a 4h por dia.

Como afirmou Henry David Thordeau: "Não basta estar ocupado. As formigas também estão. Temos de nos questionar: Estamos ocupados com o quê?"

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