O espaço mediático madeirense tem sido capturado pela inusitada situação política regional. O chumbo dum orçamento não é coisa pequena para uma Região que só conheceu estabilidade, baseada em maiorias absolutas, desde que tem autonomia política. O resto pouco interessa ou passa nas margens da discussão pública. O foco está no Governo cai, não cai. Se há novo executivo sem Miguel Albuquerque ou não. Se vai haver eleições de novo. Se a Assembleia Regional aprova ou não a moção de censura do Chega. Se havendo novo sufrágio o atual líder do PSD é ou não de novo candidato. São estas as questões. Todos os outros assuntos têm sido marginalizados.
Compreende-se a importância de ter um orçamento aprovado que garanta melhorias na vida dos cidadãos. Que faça chegar ao bolso dos cidadãos o reflexo do atual crescimento económico. Facilita ter um governo estável e em plenas funções. Mas há mais política para além da Quinta Vigia e da Assembleia Regional. As eleições autárquicas estão marcadas para o próximo mês de outubro e isso tem importância suficiente para também marcar a agenda política.
Uma das questões que se coloca para as autárquicas é de como o PSD será afetado pela instabilidade interna. É preciso compreender que o PSD sempre foi muito forte na Região, enquanto dominou todas as autarquias. Perder câmaras e juntas de freguesia foi uma forte machadada na hegemonia social-democrata. O partido, nos últimos anos, parece não ter dado a devida atenção às políticas locais e as eleições do próximo ano são fundamentais para garantir a sobrevivência do PSD como maior partido da Região.
Ao contrário dos partidos da oposição que já anunciaram grande parte dos seus cabeças de lista às câmaras e juntas de freguesia, no PSD parece não estarem reunidas as condições de estabilidade para serenamente escolher os seus candidatos. A crise interna do partido, que tudo indica estar para durar, não permite condições normais para seleção dos melhores candidatos. Com a situação periclitante da liderança regional o processo está naturalmente bloqueado. Qualquer nome que se anuncie agora pode ser substituído com nova liderança. O que deixa as estruturas locais a queimar em lume brando.
Não sabemos por mais quanto tempo durará esta situação, mas sabemos da urgência em definir candidatos e dar-lhes as condições internas de estabilidade local para poderem, com tempo, desenvolver o seu projeto autárquico junto das populações concelhias.
Hoje, a qualidade de vida das populações passa muito pela qualidade dos seus governantes locais. As competências autárquicas são cada vez maiores, os orçamentos municipais são cada vez mais robustos e exige-se candidatos cada vez mais competentes.
Há alguma expetativa para saber quem virá a ser o candidato do PSD para Machico. O PS já anunciou o seu candidato. Um autarca com experiência e credibilidade pública, com a particularidade de, ao contrário dos seus antecessores, não pertencer à ala mais abrilista e radical dos socialistas locais. Por isso o PSD precisa de estar à altura se quiser ganhar desta vez. Veremos se a situação interna vai ou não condicionar a escolha. Veremos se a proclamada unidade partidária é promovida por quem está nos órgãos do partido e não esperar o contrário.
Bom seria que, quaisquer que sejam os candidatos, todos tenham presente que os interesses municipais devem ser colocados bem acima dos interesses e questiúnculas partidárias. E que isso também seja entendido pelas cúpulas regionais.
Emanuel Gomes escreve à segunda-feira, de 4 em 4 semanas.