MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Deputado

23/12/2023 08:00

Nem novo, nem original. Em bom rigor inspirado na campanha da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária: “o melhor presente é estar presente”, adapto o título desta crónica à época que vivemos. Neste dia e a esta hora, provavelmente muitos presentes ainda estão por comprar, o que aceito, não teço qualquer juízo de valor e também sei que fazem falta.

Porém, se me permite caro leitor, nesta revéspera de Natal sugiro uma pausa nas compras, ainda que breve, em jeito de reflexão. Uma pausa na azáfama e na correria de loja em loja à procura do que não faz falta e do que já nada acrescenta ao armário da vida. Uma pausa no ocupado pensamento do que posso adquirir diferente do ano que tão rápido passou, na tentativa desenfreada de uma originalidade que não encontro fora de mim nem fora do outro. Uma pausa na superficialidade da existência pela busca da profundidade da essência, que narra e se perpetua para além da efemeridade dos dias.

Uma pausa no Natal que tolha a visão e endurece o coração para o que não é preciso nem acrescenta. Uma pausa neste ritmo frenético que nos consome à procura de tudo, cegos por não ver nada. Parar para olhar e ouvir, respirar e cheirar, tocar e sentir. Sentir o que não se compra nem se vende. Tocar o intangível dos dias consumidos por tudo, embrulhados de nada. Do nada que fica para o nada que vai e que nada acrescenta. Pausar o Natal comercial que faz contas às contas já difíceis de fazer, num mercado liberalista e inflacionista que enche os bolsos dos mesmos e deixa os de sempre deitando contas à vida. Pausar o Natal dos embrulhos e dos enchidos, do ir e do vir, para desembrulhar o encontro fértil que traz sentido à noite prenha que está para chegar. E assim... calmamente viver! Viver desembrulhando o presente da presença no toque, no abraço ou no olhar silencioso que ilumina, comunga e beija a criação.

Sim, que o presente seja a presença do nascer e renascer para a comunhão com o outro! A presença nos valores que se partilham, nos silêncios que unem. O presente na presença tantas vezes ausente, pelas exigências cruéis da existência. Que seja menos tantas coisas e mais tantas outras empatias, cumplicidades e gestos que não se compram nem se embrulham. Que seja risos e sorrisos, por entre cantares e tocares de romarias e autos que deixam rasto e marca de partilha e tradição. Que seja a presença que soma e multiplica na operação da vida que vence e ganha sentido na divisão e na subtração. Sentido no olhar atento refletido e discreto que diz sim à essência. Uma presença que engravida e amamenta na luz e no caminho para o crescimento de cada um, tal como é e se sente!

Que a pausa natalícia, faça de presente a presença na genuinidade do nascimento, na subtileza esplendorosa do milagre da existência. Sim, o melhor presente é estar presente!

Feliz Natal!

OPINIÃO EM DESTAQUE

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Concorda que Portugal deve “pagar custos” da escravatura e dos crimes coloniais?

Enviar Resultados

Mais Lidas

Últimas