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Artigo de Opinião

Psiquiatra

13/04/2022 08:00

Não há outra forma de ver a doença mental - doença mental é uma prisão. Uma prisão dentro do seu próprio corpo, muitas das vezes tendo consciência do que se está a passar, mas quase sem qualquer possibilidade de mudar. Nos casos mais graves, é fundamental aproveitar os pequenos momentos de força para apoiarmos estas pessoas a darem os primeiros passos da sua recuperação.

A doença mental não é contagiosa. Muitas pessoas ficam sozinhas no seu sofrimento, em parte porque se isolam e em grande parte porque são isoladas pela sociedade. Tal como a pobreza, a doença mental causa incómodo e muitos passam "do outro lado da rua".

Os heróis são os doentes.

Ao contrário do que muitos dizem, as pessoas não escolhem ser portadoras de doença mental, nem estas desaparecem magicamente por "força de vontade". Desde causas genéticas a causas ambientais, há sempre muitos fatores que justificam a sua presença. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças mentais são a principal causa de incapacidade no mundo. Estima-se que 20% dos dias perdidos de trabalho ocorram por doença mental. Até 2017 e em 10 anos, a OMS estimou um aumento de 13% das doenças mentais, com cerca de 20% das crianças e adolescentes com doença mental, sendo o suicídio a segunda causa de morte entre os 15-29 anos. Em termos mundiais, apenas a depressão e a ansiedade causam mais de 1 trilião de dólares de prejuízo. No caso da Região Autónoma da Madeira e com cálculos de 2004, cerca de 12 mil habitantes sofrem de depressão e custa direta e indiretamente à região pelo menos 3 milhões de euros. Apesar destes números, os gastos mundiais com a Saúde Mental (SM) representam menos de 2% da despesa em saúde.

Falamos de números para mostrar a dimensão do problema, mas não existem número que transmitam o quanto estas pessoas sofrem pela sua doença, sofrem pelo estigma com que são tratados e pelos abusos dos direitos humanos a que são sujeitos.

Os heróis são as famílias.

As famílias deparam-se inúmeras vezes com a doença mental de um familiar sem preparação para lidar com ela. Os casos mais graves ficam no silêncio e na vergonha, afastando a família nuclear de outros familiares, amigos e técnicos. Quando nos deparamos com familiares com sofrimento intenso, com pensamentos de dúvida sobre a vida, de isolamentos incompreensíveis, de comportamentos estranhos a falarem sozinhos ou raptos de agitação, como devemos agir? Infelizmente a doença mental grave não é resolvida facilmente, por conselhos ou palavras vazias, e rapidamente os familiares começam a entender, mesmo que não o expressem. Quando se informam, compreendem melhor a doença e são pilares fundamentais para a recuperação da doença. Ainda acontece, no entanto, serem colocados de parte do tratamento. Isso deve deixar de acontecer, sobretudo com o consentimento da pessoa em questão ou em casos de perigo grave para o próprio ou terceiros.

Os heróis são os técnicos.

Trabalhar na SM é ter o estigma dos colegas e ser visto como profissional inferior.

Temos de lutar intensamente, não com bisturis, próteses ou pacemakers, mas com aquilo que somos, com as nossas emoções, pensamentos e humanidade. Para além de comprimidos, temos de escutar, compreender e dar força para aqueles que sofrem, sofram menos. Não há milagres, mas há pessoas que fazem a diferença na vida de outras e os maiores milagres são quando para além de técnicos, somos Pessoas. Hoje saliento os Assistentes Sociais e Enfermeiros especialistas em SM. Fazem verdadeiros milagres diariamente, apoiam de perto quem precisa e são muitas vezes esquecidos. Que seja possível construir uma rede de técnicos para apoiar em equipa e tornarmo-nos melhores profissionais pela formação contínua.

Precisamos de mais. Destes e de outros técnicos.

Que esta época possa ser uma renovação da esperança por dias melhores!

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