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Artigo de Opinião

GATEIRA PARA A DIÁSPORA

12/04/2022 08:00

Via-se uma linha recta, em forma de estrada com escombros e escolhos: eram corpos humanos inanimados. No extremo inferior, lia-se, em letras garrafais, «LA BARBARIE» (A BARBÁRIE). A BARBÁRIE é sempre em letras garrafais e anda, muitas vezes, um passo à frente da resistência à mesma. Na guerra, plantam-se corpos em jardins onde antes cresciam flores. Brotará vida? Far-se-á Páscoa?

Certa vez, ouvi Robert Biedro?, um político polaco progressista, relembrar que a democracia - e a possibilidade da mesma, acrescento - começara nas cidades e que ambas precediam o Estado. Isto leva-nos a reflectir sobre o que se está a destruir quando se destroem as cidades ucranianas. Um escritor russo que vive na Alemanha diz que a língua russa deixou de nos fazer pensar na grande literatura russa, e faz-nos pensar nas cidades ucranianas destruídas. Contudo, sem os escritores-artistas (expressão utilizada por Catherine Dumas), como poderíamos pensar num futuro possível para esta realidade impossível?

Na mesma primeira página do Libération, há uma chamada para a carnificina no Mali, durante cinco dias de terror em Moura. Entre 27 e 31 de Março, as forças militares malianas e milícias russas (o famigerado grupo Wagner) mataram alegadamente entre 200 a 400 pessoas por suspeita de associação a grupos terroristas. Tamanhas atrocidades, num caso e noutro, requerem uma resposta justa e firme (e a falta que faz um Estado de Direito). Paredes-meias com o Mali encontra-se o Burkina Faso, país que viu nascer o arquitecto Francis Kéré, primeiro africano laureado com o Prémio Pritzker. O seu trabalho na escola primária de Gando, na sua pátria, é apresentado como seminal. A escola foi dotada de um poço para dar resposta a uma necessidade básica e reduzir as desigualdades sociais. Espero que, em breve, se possa votar nessa escola para que desse poço brote outra vida.

Estive recentemente em Colmar e vi uma das três tapeçarias feitas com base na Guernica pintada por Picasso e realizada por Jacqueline de La Baume-Dürrbach, em colaboração com o artista espanhol. Denuncia o bombardeamento da cidade espanhola em 26 de Abril de 1937 por aviões alemães no que seria um ensaio para a II Guerra Mundial. A primeira tapeçaria foi colocada na parte exterior do Conselho de Segurança da ONU e foi tapada em Fevereiro de 2003 para que, como explica John R. MacArthur, as câmaras de televisão não veiculassem as imagens de dor e morte enquanto Colin Powell perorava, com base numa mentira, em favor da guerra no Iraque. Há alguns anos, os alunos de Belas Artes e o seu professor fizeram desfilar, pelas ruas de Estrasburgo, onde botas nazis tinham passado e libertadores americanos, africanos e europeus viriam a passar, uma réplica da Guernica contra a guerra na Síria.

Em Abril, o nosso cravo nunca se pareceu tanto com um girassol (à procura do astro liberdade) e tem um rosto de criança afegã, síria, curda, ucraniana e de tantas outras proveniências que nos chegam em busca de refúgio. É também isto que esteve em causa nas eleições húngaras e que estará em causa na segunda volta das presidenciais francesas a 24 de Abril.

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