Com a proximidade de eleições, estes dois recursos são cada vez mais frequentes e a sua indecência aumenta na proporção não do interesse público, mas na exata medida dos interesses partidários e eleitorais de cada um.
É vê-los andar por aí a ignorar o trabalho feito, a criar versões ficcionais da realidade ou a tentar, por todos os meios, com que o trabalho não avance, nem seja concretizado, exatamente para depois terem argumentos para acusar quem trabalha de não trabalhar. Assim dito parece um recurso ridículo e risível, mas é um recurso real. Quem o exerce tem lata para isto e, se calhar, para muito mais.
Em Santa Cruz tem havido de tudo. É ver partidos que levaram os últimos quatro anos num longo processo de hibernação a acordarem de repente e, como é próprio de quem esteve a dormir, não sabe nada do que fizeram os que andaram acordados, nem do trabalho que foi feito.
Mas, mais grave ainda, é uma nova categoria de oposição que tenta travar o que está a ser feito. E aqui entram certos peões da social democracia vigente, mas também, pasme-se, setores do Governo Regional.
E então como é que tudo isto se processa: é aparentemente fácil, embora de eficácia reduzida.
Assim, quando a Câmara anuncia ou inicia uma obra, aparecem logo uns senhores com petições, com críticas, com questões, com problemazinhos, com truques e manhas para tentar com que as coisas não avancem. Costumam ter a democracia na ponta da língua, mas esquecem-se de que as obras em curso foram referendadas naquele que é o momento mais alto da democracia: as eleições. Arvoram-se que representam uns tantos e esquecem que quem exerce o poder representa muitos mais. Esquecem-se de que todo o mandato tem um programa e de que esse programa foi o escolhido pelo povo.
Mas estes peõezinhos têm quem os comanda e, ao contrário do que dizem, não é o interesse das populações que os move, mas outros interesses bem menos nobres.
Depois, há a prática de quem governa. E aqui as coisas assumem contornos bem mais graves. O Governo Regional, que tem por hábito não responder a nenhum ofício da Câmara, descobriu agora que pode simplesmente esperar que a Câmara anuncie as obras para vir informar que já tinha pensado fazer a mesma coisa. Querem com isto não avançar, mas travar quem quer avançar.
É uma espécie de nova versão do que Júlio César dizia sobre um povo nos confins da Ibéria que "que não se governa nem se deixa governar", mas com a atualização para aquele que não governam, nem deixam governar.
Aqui vamos, mas vamos também confiantes de que temos trabalho, de que vamos trabalhar apesar dos ‘truques’ em voga e de que a população saberá julgar quando for o tempo de o fazer.