No dia 18 de dezembro assinala-se o Dia Internacional dos Migrantes. Para marcar a efeméride, a Direção Regional das Comunidades e Cooperação Externa promoveu uma campanha que dá a conhecer a diversidade cultural e o ambiente intercultural que se vive na Madeira e que nos afirma como uma Região aberta, plural e cosmopolita. Uma realidade visível hodiernamente: da restauração à agricultura, das pescas aos serviços, dos trabalhadores menos qualificados aos altamente especializados, passando por estudantes, investidores, artistas, investigadores, professores e desportistas. É esta diversidade que enriquece a nossa sociedade e contribui para o seu desenvolvimento.
Esta data lembra-nos também uma verdade frequentemente ignorada nos debates públicos: a história da humanidade é, desde sempre, uma história de migrações. Povos, culturas e economias nasceram do movimento, não do isolamento ou da estagnação. A mobilidade foi decisiva para o desenvolvimento da humanidade e para o crescimento das sociedades e continua a sê-lo num mundo globalizado e interdependente.
Apesar disso, o fenómeno migratório tem sido alvo de discursos simplistas, demagógicos e hostis, que substituem a análise séria pela exploração do medo. Discursos que usam números fora de contexto para criar suspeição, alimentar ressentimentos e dividir a sociedade. É precisamente aqui que a responsabilidade política deveria falar mais alto.
A história da diáspora madeirense é um exemplo claro de que migrar nunca foi exceção, mas regra. Ao longo dos séculos XIX e XX, por exemplo, dezenas de milhares de madeirenses partiram para a Venezuela, África do Sul, Brasil, Estados Unidos e Reino Unido, empurrados pela miséria e pela falta de oportunidades. Foram trabalhadores essenciais para as sociedades de acolhimento e, ao mesmo tempo, sustentaram a Madeira através das remessas enviadas às famílias. Essa experiência faz parte da nossa identidade coletiva e deveria funcionar como antídoto contra a xenofobia contemporânea.
É por isso particularmente grave assistir hoje à distorção deliberada de dados para atacar comunidades inteiras. Recentemente, a deputada Ana Rita Matias afirmou que apenas “um terço dos estrangeiros trabalha”, sustentando que existiriam apenas cerca de 600 mil imigrantes em idade ativa inscritos na Segurança Social. A afirmação é falsa e politicamente irresponsável. Em 2024, Portugal tinha cerca de 1,6 milhões de residentes estrangeiros, dos quais entre 895 mil e mais de um milhão descontavam para a Segurança Social. Mesmo na estimativa mais conservadora, mais de metade contribui ativamente. Se olharmos apenas para a população em idade ativa, a taxa ultrapassa os 70%, sendo superior à da população portuguesa.
A diferença entre o número total de residentes e o de contribuintes explica-se por razões evidentes: crianças, estudantes, reformados, trabalhadores remotos e investidores, desemprego temporário ou processos administrativos. Exatamente como acontece com os portugueses. Comparar universos distintos não é um erro técnico: é uma falácia consciente usada para gerar medo e hostilidade. É um logro, um engano, uma mentira, uma manipulação, uma traição ao seu eleitorado e em quem em si confia. Os dados oficiais mostram o contrário do que estes discursos insinuam. Os estrangeiros são mais jovens, contribuem durante mais tempo e foram decisivos para o crescimento da Segurança Social. Sem eles, o sistema teria perdido contribuintes. Distorcer números não esclarece, não resolve problemas e não protege ninguém. Não ajuda ao desenvolvimento, não garante a segurança, não perpetua a cultura. Apenas divide e degrada o debate público. Separa. Divide. Segrega. Semeia ódios.
A Madeira sempre soube o que é partir e o que é acolher. Não podemos permitir que discursos importados, radicais e populistas tentem impor uma narrativa de ódio que não corresponde à realidade nem ao sentir dos madeirenses. A política feita com base na mentira pode gerar ruído, mas não constrói soluções. Garante seguidores, mas não produz riqueza. Dá likes, mas não valoriza a sociedade.
É por isso que campanhas como esta são fundamentais: para repor a verdade, promover o rigor e defender uma convivência assente no respeito. Só assim se constroem sociedades coesas, seguras e desenvolvidas. Como aquela que o Governo Regional e todos os madeirenses pretendem para a nossa terra e para o nosso povo.
Boas festas a todos!