Chama-se assim a primeira Exortação apostólica do Papa Leão XIV que une a sua voz à do Papa Francisco e nos obriga a olhar para um mundo que mora ao nosso lado, que dorme nas nossas ruas, que entra, todos os dias, nas nossas casas: os pobres.

Apontando as “múltiplas formas de pobreza social e económica”, as situações de exclusão e de abandono-os que dormem ao abrigo das estrelas, as mães que entregam os seus filhos, porque não podem cuidar deles, as famílias que não sabem o que fazer até ao fim do mês e outros, tantos outros - o Papa lembra-nos as palavras de Jesus: “Amei-te”.

Este amor implica agir, dar voz aos gritos que a fome calou, mostrar as lágrimas que muitos teimam em esconder, defender sempre a dignidade humana. Este amor significa redefinir caminhos que o nosso comodismo interrompeu e olhar, com o coração, para os lugares onde a condição humana se revela e nos deixarmos envolver pela verdade que ela transporta. Afinal – diz o Papa Leão - é necessário que “todos nos deixemos evangelizar pelos pobres” (102), porque eles são dos nossos, são família.

Esta exortação dá continuidade à última assinada pelo Papa Francisco, pouco antes de morrer, “Ele nos amou”, um tratado sobre o amor humano e o amor divino. Agora, com o dedo apontado ao nosso coração, este texto evidencia a ligação entre a fé e o cuidado com o “rosto ferido dos pobres”. Cabe-nos não tolerar: que milhões de pessoas morram de fome, que milhões de pessoas vivam em condições desumanas; que tantos migrantes morram em mares de indiferença; que os direitos sejam apenas de alguns; que continuemos cegos.

Esta declaração de amor, “Amei-te”, é dirigida a cada um de nós. Para respondermos “e eu a Ti” (não é assim que se responde?), é preciso mudar mentalidades e perceber que a felicidade é muito mais do que ter tudo, do que poder tudo, do que ter sucesso em tudo, sobretudo se isso acontece em detrimento dos outros.

(acerca de um caminho feito com os pobres)