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Artigo de Opinião

22/06/2023 08:00

Nas conversas de muitos madeirenses, a inveja é um tema recorrente. Já ouvi muita coisa, mas assumir que a inveja é um sentimento normal que todos nós sentimos, nunca ouvi. A inveja é uma emoção humana que envolve sentimentos de ressentimento, ciúme e desejo de possuir o que a outra pessoa tem.

A base desse sentimento é apreciar algo que alguém tem ou é, ao ponto de desejar ser/possuir isso.

A inveja é um tabu, por isso não é assumida. Desde a criação do mundo que se fala da inveja e nunca com bons olhos. Na Igreja Católica, a inveja é ainda um pecado mortal. Santo Agostinho disse que o sujeito morre aos poucos por meio da inveja, na busca de matar o outro ao qual inveja. Podemos morrer da nossa inveja, disse ele.

Quem é que vai assumir sentir inveja de algo, quando a sociedade penaliza tanto esta emoção? Uma emoção comum, mas raramente assumida, porque não é aceite.

Há obviamente uma associação entre a inveja e a autoestima. Quando menos autoestima tivermos, mais inveja vamos sentir, porque os outros são sempre melhores que nós.

Num estudo feito em 2014 por Silvia Furtado, foi provado que as postagens dos perfis de moda despertam a inveja e que este sentimento é um fator motivador do consumo. Isto significa que as postagens destas pessoas nos provocam inveja e isso faz-nos querer comprar os produtos publicitados por elas.

A inveja no trabalho pode trazer também problemas.

Um estudo recente propõe, que para reduzir problemas/conflitos laborais, devemos estar mais conscientes das nossas emoções e concentrarmo-nos na forma como podemos melhorar as situações, sempre de forma construtiva. Estes investigadores sugerem que em vez de ignorar a inveja, devemos tratá-la apenas como uma "emoção feia". O funcionário deve aceitar o seu sentimento de inveja e ponderar porque é que está a senti-lo e que recursos dispõe para melhorar a sua situação. Se inveja X deverá assumir e tentar ser/aprender com X em vez de simplesmente invejar. Já vi chefes a afastarem os seus melhores colaboradores, porque os invejavam, em vez de trazê-los para perto de si e fazer a sua equipa crescer. Líderes fracos?

O que é que invejamos?

Invejar é elogiar!

Nunca vi ninguém invejar a vida de um sem abrigo, ou de um doente grave. Invejamos sempre algo que alguém tem e que sem assumirmos valorizamos e queremos para nós. Material ou até emocional. Podemos invejar uns sapatos "nos pés de alguém" (ser aquela pessoa?), a inteligência ou até a energia de alguém.

A inveja sentida de nós para com os outros ou dos outros para nós não tem poderes especiais. O único poder que tem é assustar os que mais invejam (espelho) outros. Esses mudam a sua vida pelo "terror" do efeito da inveja de outros sobre si.

A inveja tira a liberdade dessas pessoas, deixam de fazer e não mostram nada, com medo dos outros. O que é importante perceber é que a liberdade é bloqueada pela inveja, porque: Ser livre implica começar a fazer escolhas e isso é difícil.

Uma pessoa que inveja muito, não é livre. Invejar, saudavelmente, é ser livre.

Ser livre é poder escolher. Escolher aprender com aqueles que elogiamos através da inveja. Assumir o que invejamos.

Será melhor um vizinho ladrão ou um vizinho invejoso?

"O número dos que nos invejam confirma as nossas capacidades." Oscar Wilde

"Quando um dos meus amigos tem sucesso, alguma coisa em mim se apaga." Gore Vidal

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