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Artigo de Opinião

Jornalista

29/09/2022 08:00

Não há muitos anos faltavam escolas para tantos alunos. Hoje faltam alunos para tantas escolas. O despovoamento acentuado acelerou o que se pensava não viesse acontecer de forma tão rápida.

A generalização do ensino levou o poder político — e bem — a construir escolas por toda a região.

O ensino desde o primeiro ciclo até ao secundário chegou a todos os concelhos. Alunos não faltavam. Mas depois vieram os novos tempos e a realidade mudou. No meu tempo em Santana só se podia estudar até ao segundo ano (atual sexto ano de escolaridade). A partir daí a solução era ir para o Funchal. Era só para quem podia. Infelizmente por dificuldades diversas muitos tiveram mesmo de ficar pelo caminho. No meu caso os meus pais lá conseguiram arranjar solução para poder continuar a estudar ainda que fosse longe de casa. Numa parte desse percurso fiquei na casa de uma tia por onde já tinham passado os meus irmãos mais velhos e outros primos. Muito devo à tia Maria. Quem veio depois da minha geração já passou a ter ensino secundário em Santana. Numa primeira fase até ao nono ano e depois até ao décimo segundo. Alargou-se a escolaridade obrigatória. Construíram-se escolas. No fundo, democratizou-se o acesso ao ensino. Os tempos mudaram e agora quase já não há alunos para tantas escolas. É um pouco assim por toda a região, mas se calhar duma forma mais acentuada no norte da Madeira.

Escolas encerradas é o que não falta.

O meu ensino primário passou pela escola denominada "escola das Irmãs". Uma escola ligada à Igreja cujas professoras eram freiras. Foi aí que aprendi tudo até à quarta classe. Eram várias turmas em vários anos. Como era ensino privado quando chegávamos à quarta classe tínhamos de ir fazer um exame a uma escola pública.

Ainda me recordo do nervoso miudinho de entrar na Escola do Cabeço para a prova que iria avaliar quatro anos de trabalho. Levava uma caneta de tinta com pena e uma folha de 25 linhas com uma margem devidamente dobrada. Ali tinha de mostrar a qualidade do ensino de que tinha sido alvo na escola particular ligada à igreja. Normalmente quem passava pela escola das Irmãs vinha bem preparado. As regras eram um pouco mais rigorosas que no ensino público, mas os resultados eram compensadores.

Foram quatro anos muito felizes. Ainda me recordo das brincadeiras no intervalo das aulas e dos muitos colegas que tive. Mesmo correndo o risco de esquecer alguns, recordo-me do Jaime, do Paulo Caetano do Gualdino, do Paulo Jorge, da Dalila, da Luísa da Lina, entre outros. A maior parte perdi-lhes o rasto, porque depois da quarta classe numa terra sem grandes oportunidades muitos emigraram. A escola funcionava numas instalações contíguas à Igreja de Santana. O recreio era feito no adro. Nesse tempo toda a gente vinha a pé de casa, vivesse de que parte fosse da freguesia fosse a que distância fosse da escola. Com os nossos seis, sete anos, fizesse chuva ou sol, íamos sozinhos para a escola.

No regresso era a mesma coisa. Mas até isso era divertido. Não raras as vezes ao longo do percurso no regresso a casa depois de um dia de aulas, fazíamos várias brincadeiras. Algumas delas -reconheço hoje — não eram as mais adequadas. Mas o tempo foi ensinando e lá se conseguia o essencial que era chegar ao final de cada ano letivo com aproveitamento. Foram essas as bases que depois nos serviram para o resto da vida. Na escola das Irmãs, para além do ensino puro e duro, também nos ensinavam outros valores importantes para a vida. Tanto quanto sei este tipo de ensino há bem pouco tempo, deixou de ser uma realidade naquela freguesia. A falta de crianças conjugada também com a falta de freiras com formação para o ensino, ditaram o encerramento deste estabelecimento. Para trás fica um passado muito rico na formação de muita gente em Santana.

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