Durante o tempo de quarentena, encontro nas memórias do facebook, uma fotografia - ela própria no original, um clássico em papel fotográfico Agfa! -, com um Fiat 131 Mirafiori Abarth Rally, que em 1981 de uma forma acidental, cruzou-se comigo. Assistia, junto dos meus pais e amigos à XXII edição do Rali Vinho Madeira, tinha eu oito anos de idade. É incrível a forma, como aquele momento no troço de estrada no alto da serra, são arquivados na nossa memória, num misto de cheiros e cores: da borracha queimada dos pneus PIRELLI P7 CORSA, no alcatrão quente de agosto, humedecido pelo OLIO FIAT derramado e ao odor forte a eucalipto e a pinheiros mansos. Ao ruído da azáfama criada na tentativa de encontrar despojos da máquina transalpina que acabara de se despenhar, entre o verde das árvores e arbustos misturados no castanho da terra vulcânica madeirense.
Esta mesma história, que acabara de ver a ocorrer e, que ao rever as fotos daquela aventura - com o amarelecer pelos dedos e o tempo ao folhear, coladas no meu álbum familiar, aos meus olhos de tenra idade - foi uma aventura de dimensão equivalente, às que vira com o grande ídolo Jacques-Yves Cousteau - que religiosamente acompanhava na RTP -, mas passada em terra. E que aventura! Aquele "Calypso" de Turim, que vira passar a arfar, com o uivo emitido pela batuta da injecção Kugelfischer - como maestrina da Osquestra Lampredi - passou em velocidade impressionante, que mal me permitiu ver o enorme "Nº 1" na porta do campeão europeu de Ralis em título, jazia agora, ali, diante dos meus olhos, branco e inerte. Como as enormes baleias, jazem de encontro às praias nos documentários do explorador francês. A emoção me invadiu, com a adrenalina a correr como a benzina no 131 Abarth Rally. O relato pelo repórter da RDP-Madeira, ao que acontecera, ecoava no meu pequeno e fiel Rádio-transístor AM Sanyo que me acompanhava nas viagens no Toyota Corolla do meu pai: "Mamma Mia"! as imagens, que agora parecem frames - como as dos filmes em Tecnicolor -, no socorro aos pilotos, efectuada pela ambulância vinda da Calheta oferecida pela Suécia, naqueles anos de crise económica no nosso país...
Uma estória que desperta o interesse aos petrolheads? claro que sim...