Na V Conferência do Caminho Real da Madeira, Élvio Camacho, doutorado em Gestão e investigador da Universidade da Madeira, defendeu a necessidade de repensar a forma como o arquipélago organiza, distribui e oferece os seus percursos aos visitantes. Especialista em modelos de capacidade de carga turística, tem vindo a estudar formas de avaliar a pressão exercida sobre o território e a antecipar cenários que permitam uma gestão mais equilibrada do turismo de natureza.
O investigador explicou que revisitou modelos internacionais de avaliação da capacidade de carga e a sua evolução, destacando o contributo de diversos autores que estudaram a pressão turística. Lembrou, porém, que o tema “está na moda” e que, por isso, muitos responsáveis políticos o usam mais como argumento de apresentação do que como ferramenta efetiva de planeamento.
Notou que está em curso um novo projeto de monitorização associada ao território e ao turismo, previsto para arrancar no próximo ano. “Há um conjunto de trabalho que está a ser feito, e que permitirá conhecer melhor o que temos”.
Durante a sua intervenção, refletiu sobre os caminhos atualmente disponíveis para os turistas e destacou que os Caminhos Reais, embora relevantes do ponto de vista patrimonial, não são os mais procurados. Nesse sentido, criticou a tendência das empresas de turismo ativo de concentrarem grandes grupos “nos mesmos lugares e à mesma hora”, criando sobrecarga e impacto ambiental desnecessário.
Para ilustrar o problema, recorreu a uma analogia gastronómica: “Somos aquilo que comemos? Ou somos aquilo que nos põem no prato?” Segundo o investigador, esta metáfora aplica-se tanto à alimentação como à forma como consumimos território. “Somos o que comemos quando podemos escolher. Quando não podemos, somos o que nos oferecem”, afirmou.
Comparou os percursos turísticos mais massificados a “comida processada”, enquanto as experiências lentas, com património integrado e ligação emocional ao território, representariam a “comida orgânica”. A seu ver, a Madeira tem potencial para oferecer mais desta última categoria.
Élvio Camacho alertou ainda para o aumento de casos de turistas que acabam em trilhos não recomendados, ou em condições que não são adequadas, devido à falta de informação, de orientação ou de alternativas claramente estruturadas. Defendeu que o futuro passará por encontrar um equilíbrio entre quantidade e qualidade, garantindo segurança, sustentabilidade e diversidade na oferta de percursos.
A intervenção integrou o primeiro painel da conferência, “Território e Pressão”, que contou também com Dinarte Fernandes, presidente da Câmara Municipal de Santana, e Renato Goulart, guia de montanha nos Açores com mais de 30 anos de experiência no Pico e autor do documentário 2351.