Na reta final do fórum do JM, e falando no futuro, os três intervenientes voltaram a convergir nas alterações climáticas como principal desafio à Laurissilva e na necessidade de manter a floresta em bom estado de conservação para garantir resiliência.
Eduardo Jesus insistiu na ideia de equilíbrio na utilização do território, lembrando que, ao longo da história, o espaço natural já foi usado com maior carga económica, incluindo a presença de gado, e hoje é sobretudo procurado para fruição e bem-estar.
Sobre o gado na serra, foi claro indicando que a atividade é possível “desde que autorizada pelo IFCN”, que tem competência para avaliar o equilíbrio necessário. Recordou que, quando esse equilíbrio falha, “as consequências são muito nocivas”.
Para ilustrar a mudança de paradigma, deu o exemplo do mar: “há uns anos caçavam-se baleias na Madeira, hoje, apreciam-se as baleias”, criando uma atividade económica maior, preservando a espécie e diferenciando o destino.
Eduardo Jesus apontou ainda o Festival da Natureza, admitindo que este foi um “cartaz difícil de ganhar robustez” até se recentrar no bem-estar na natureza – com yoga, concertos e outras experiências em espaço natural –, o que levou a uma crescente procura.
“Há um reconhecimento muito grande da valia que é o contacto com a natureza e do tão pouco que precisamos para tirar muito da natureza, sobretudo no controlo do stress e no bem-estar das pessoas.”
Para o secretário regional, a chave está em três palavras: equilíbrio, consciência e envolvimento.
Já Rocha da Silva olhou mais diretamente para o impacto do clima no futuro da Laurissilva, lembrando que os nevoeiros entre os 900 e os 1.200 metros são o suporte de grande parte das nascentes. Se, com as alterações climáticas, esses nevoeiros subirem acima da altitude máxima da ilha, a chamada Laurissilva do Til, a parte mais exuberante da floresta, “será naturalmente afetada”.
O engenheiro considera que quem estiver no terreno nesse tempo terá de trabalhar com quem estuda os ecossistemas para entender “se o homem tem alguma coisa a fazer” e que ações podem mitigar os efeitos, mas admite que esse será o fator que mais condicionará a evolução deste património.
Paulo Oliveira fechou o debate com uma imagem que resume o caminho desejado, com a esperança de estar, daqui a 25 anos, “na Laurissilva a tomar banhos de floresta.”
Referiu que os cenários da estratégia Clima Madeira apontam para alterações em altitude, tanto nas franjas mais baixas como nas mais altas da floresta, e defendeu que é preciso “monitorizar e intervir na medida do possível”, aceitando que a Laurissilva será diferente no futuro, “mas naturalmente diferente”.
Se estiver em bom estado de conservação, concluiu, terá capacidade para se adaptar. “Vamos bater sempre ao mesmo: proteger e deixar a natureza acontecer”, concluiu.