A ideia de que, em Portugal, a instituição militar nunca se quis substituir aos políticos, foi defendida pelo tenente-general Nuno Lemos Pires, numa conferência realizada esta quinta-feira, no Funchal, alusiva à tentativa de golpe militar de 25 de novembro de 1975.

“A instituição militar conseguiu garantir que houvesse liberdade para ação política, para que depois fosse o país a decidir o seu futuro, que as regiões autónomas se afirmassem, em que, no fundo, houvesse um caminho para olhar”, declarou aos jornalistas à entrada para a sessão.

Reconhece que “sempre houve militares na política”, mas que “nunca a instituição militar quis fazer a política”.

A conferência, sobre a qual poderá ler o desenvolvimento na edição em papel do JM, foi organizada pela delegação da Madeira da Associação de Auditores dos Cursos de Defesa Nacional em parceria com a Assembleia Legislativa da Madeira, integrando o programa oficial das comemorações dos 50 anos do 25 de novembro, tendo contado ainda com o apoio de uma empresa de informática e consultoria.

Rubina Leal, presidente da ALRAM, lembrou o 25 de Novembro como “um marco decisivo para a consolidação do sistema democrático, momento sem o qual o país não teria alcançado a estabilidade institucional que o caracteriza”.

Sobre o palestrante, a anfitriã destacou o percurso reconhecido como “académico, pensador estratégico, militar de carreira, responsável por missões internacionais de grande complexidade e hoje Diretor-Geral de Política de Defesa Nacional”.

“A Madeira, pela sua posição geoestratégica, encontra especial eco nos seus alertas, nas suas ideias e na sua leitura estratégica do mundo”, disse.

Analisando o golpe militar, sob o ponto de vista da Madeira, referiu que num momento em que o processo autonómico estava a dar os primeiros passos “era indispensável um ambiente de segurança política, de confiança institucional e de clarificação democrática”.

Olhando para o futuro, numa “era marcada por incertezas, tensões geopolíticas, ameaças híbridas, ciberataques, desafios energéticos e instabilidade externa”, Rubina Leal destacou a importância do investimento em defesa e segurança.

O Tenente-General do Exército, Nuno Lemos Pires (Operações Especiais), é Diretor-Geral de Política de Defesa Nacional do Ministério da Defesa Nacional. É Doutor em História, Defesa e Relações Internacionais e Mestre em Ciências Militares. Tem, até à data, 14 livros publicados e mais de 135 capítulos ou artigos em livros e publicações variadas, nas línguas portuguesa, inglesa e espanhola.

Exerceu funções de instrução e comando na Escola Prática de Infantaria; Professor de Operações Militares, História Militar e Estratégia no Instituto Universitário Militar; Intelligence Officer no NATO/Rapid Deployable Corps em Valência/Espanha; Assistente Militar do Comandante do NATO/Joint Command Lisbon;Foi Comandante do 2.º Batalhão de Infantaria Mecanizado na Brigada Mecanizada; Comandante do Corpo de Alunos, Segundo Comandante, Diretor de Ensino, Coordenador do Doutoramento em História, Estudos de Segurança e Defesa, Professor de História, Operações Militares e Relações Internacionais na Academia Militar; Diretor de Formação da Escola das Armas; Subdiretor-geral de Política de Defesa Nacional; Comandante da Missão de Treino da União Europeia em Moçambique (EUTM-Moz).Participou em diversas missões internacionais destacando-se: Moçambique (1995-1996 e 2021-2022), Angola (2000 e 2001), Paquistão (2005) e Afeganistão (2009-2010).

A Associação dos Auditores dos Cursos de Defesa Nacional é uma associação de direito privado, independente do poder político, constituída por cidadãos qualificados detentores do Curso de Defesa Nacional, dispostos a contribuir para a prossecução dos interesses estratégicos de Portugal e tem por missão promover a divulgação de informação relevante sobre os interesses do País e o dever cívico de participar na discussão e definição das grandes orientações da Estratégia Nacional.