Já não são apenas três pontes Vasco da Gama

Em 2020, a Ordem dos Psicólogos Portugueses publicou um relatório que mostrou que os custos indiretos das questões de saúde psicológica nos locais de trabalho, nomeadamente em perdas de produtividade nas empresas privadas do setor não financeiro, ascendia a 3,2 mil milhões de euros, um valor equivalente ao que teriam custado 3 pontes Vasco da Gama. É o equivalente a um resgate da TAP todos os anos ou de um NovoBanco a cada dois anos, aproximadamente.

Uma nova análise de 2022 (Prosperidade e Sustentabilidade das Organizações – Relatório do Custo do Stresse e dos Problemas de Saúde Psicológica no Trabalho, disponível em www.maisprodutividade.org), não só reitera esta realidade, como evidencia que a sua magnitude é agora muito superior, na ordem dos 5,3 mil milhões de euros. Trata-se de um valor que inclui apenas os custos indiretos, por exemplo, do absentismo e do presentismo, responsáveis respetivamente por 8 e 16 dias de trabalho perdidos por ano, o que significa que se considerarmos também os custos diretos (por exemplo, resultantes de tratamentos ou seguros), a dimensão das perdas é muito superior.

Este foi mais um contributo que ilustra uma realidade evidente: a experiência psicossocial nos locais de trabalho é determinante para os resultados financeiros da própria organização e, num plano mais alargado, para a funcionalidade das sociedades. Certamente, uma percentagem muito significativa da variabilidade da experiência de bem estar numa sociedade decorre do que acontece nos locais de trabalho.

Referimos já nesta coluna (Viver melhor o trabalho, 22/02/22) que chamaria muito a atenção se, numa demonstração de resultados de uma organização, constasse um custo evitável de milhares de euros. Ora, esse custo existe e está demonstrada a forma de o resolver. Melhorar uma circunstância que é especialmente problemática no nosso País é possível, está ao alcance e requer o envolvimento de todos e um real compromisso em implementar as ações que contribuem para o sucesso.

Isto inclui mais a mobilização do conhecimento e o reforço dos psicólogos que trabalhem estas questões em contexto laboral, a avaliação e a intervenção sobre os riscos psicossociais, o envolvimento dos trabalhadores e das lideranças na análise das práticas laborais e modalidades de trabalho, a formação e o desenvolvimento de competências facilitadoras, incluindo por parte das lideranças, e as iniciativas de promoção da saúde e bem estar no local de trabalho, entre outros. E inclui menos a canalização de recursos para palestras motivacionais, na linha do “eu consigo”, ou para ações aleatórias de promoção da “felicidade no local de trabalho”.

Uma ação organizada e que inclui os ingredientes certos pode reduzir as perdas de produtividade e gerar poupanças de cerca de 1,6 mil milhões de euros por ano, mostrando o elevado retorno da promoção da saúde psicológica nos locais de trabalho. Ou, como neste espaço dissemos anteriormente (Os trabalhadores não abandonam as organizações, mas as suas lideranças, 03/10/2018), se os riscos psicossociais são determinantes para a produtividade e competitividade das organizações, então agir sobre eles é um fator de racionalidade económica e exemplo de boa gestão e liderança.